Hortícolas

(Quase) tudo sobre couves

Quando penso em couves, tenho sempre uma sensação ambígua: por um lado, são uma referência em todas as hortas portuguesas, têm ótimas qualidades nutritivas e são de uma resistência extraordinária; por outro lado, quando mal integradas nas hortas, dão-me sempre a sensação de que são as sobreviventes de culturas abandonadas. À medida que vou trabalhando mais com elas, vou descobrindo as suas inúmeras qualidades e variedades e hoje já fazem parte dos meus legumes indispensáveis. Devido à sua enorme resistência ao frio e às geadas, são uma verdadeira despensa viva à mão de colher!

Família das Brássicas

Fazem parte desta família a couve-portuguesa, a couve-coração, o repolho, a couve-de-bruxelas, a couve-roxa, a couve-flor, os brócolos e muitas outras variedades destas.

Brócolos.

Brócolos e couve-flor

Vou falar de dois “primos direitos”, os brócolos e a couve-flor, muito apreciados na cozinha tradicional. Diferem dos outros membros da família, sobretudo na parte vegetativa que delas consumimos. Das couves em geral, comemos os talos e as folhas e, quando começam a grelar (dar flores), podemos também comer esses rebentos, os famosos grelos. Da couve-flor e dos brócolos, o que comemos são os rebentos que se formam na fase da floração antes de se transformarem em flores. Uma das diferenças entre eles é que, quando cortamos a parte comestível da couve-flor, o resto da planta já só serve para alimentar as galinhas ou o composto; nos brócolos, depois de cortarmos a flor principal, eles vão dando novos rebentos, que são menores mas muito saborosos.

Couves-de-bruxelas.

Couves-de-bruxelas

Vou mencionar as singulares couves-de-bruxelas exatamente por serem tão diferentes dos restantes membros da família. São assim denominadas porque se pensa terem tido a sua origem na Bélgica. As couves-de-bruxelas são pequenos rebentos que se formam junto ao caule principal onde despontam as folhas. Parecem até couvezinhas de brincar, o seu sabor é bastante forte e peculiar, o que leva muitas crianças a torcerem o nariz quando as vêm no prato. No entanto, quando devidamente cozinhadas, são um valioso e gostoso complemento em qualquer prato de inverno.

De comer e chorar por mais!

Não posso deixar de falar da pak choi (couve-chinesa), que tem vindo a ter um maior consumo na nossa culinária. É uma verdadeira delícia e as suas folhas estaladiças podem ser consumidas cruas ou cozidas. O subtil sabor dos seus rebentos crus são um must nas saladas de inverno. Depois da planta crescida, os talos cozidos são uma verdadeira iguaria.

Cuidados e cultivo

Podemos consumir couves quase todo o ano. Eu gosto de usufruir delas nos meses de outono e inverno quando há menos legumes nas hortas — faço as minhas sementeiras em junho-julho e faço o transplante em agosto-setembro. No entanto, o mais fácil é adquirir as plantas pequenas nas feiras ou nos hortos e fazer logo o transplante. Assim, dois ou três meses depois, pode usufruir da colheita.

Como plantar

Devem ser plantadas a uma distância de 50 a 60 cm entre elas e gostam de solos ricos em nutrientes. Coloque composto na terra.

Como colher

As couves de folha e centro solto (couve-portuguesa, galega, pencas, etc.) podem ser colhidas a pouco e pouco. Vamos retirando as folhas exteriores e maiores e deixamos o centro a crescer. As de centro fechado (repolho, couve-coração) têm de ser colhidas por inteiro, cortando-as abaixo do começo das folhas, aguentam bastante tempo no frigorífico. Sobre a colheita dos brócolos, couve-flor e couve-de-bruxelas já falámos anteriormente.

Afastar os predadores

Apesar da sua resistência, as couves fazem as delícias das lagartas, das lesmas e dos caracóis que por vezes as consomem por completo. O chorume de urtiga, folha de alho e detergente de louça biodegradável é sempre a minha primeira prática — deve-se pulverizar as couves com esta mistura. As borras de café ou o farelo (alimento de pintos) também podem ser espalhados sobre as culturas e sobre a terra. Por fim, se nada disto resultar (deve utilizar estas práticas mais que uma vez e com pequenos intervalos de tempo), temos o infalível Bacillus thuringensis.

Sabia que…

…Algumas variedades de couves ficam mais tenras e saborosas depois de passarem por uma boa geada?

…As couves são plantas bianuais, o que signifi ca que levam dois anos para completar o seu ciclo biológico — no primeiro ano, dão raízes, caules e folhas, depois, entram num período de hibernação durante os meses de maior frio e só no ano seguinte dão fl or e sementes?

…São plantas que podem ficar vários anos na horta e, por vezes, têm um crescimento impressionante?

Depois de adulta, se cortarmos a parte superior da planta e deixarmos o caule, estimulamos o crescimento de pequenos rebentos bastante saborosos, chamados “netinhos”?

Fotos: Karin Jonsson, Tim Sackton, Marco Verch

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