Uma praga picadora-sugadora com potenciais repercussões sobre o quotidiano humano.
O tigre-do-plátano (Corythuca ciliata) é um percevejo que se alimenta da parte inferior das folhas de plátanos. Na América do Norte, área de origem do tigre-do-plátano, a espécie encontra-se por todo o leste dos EUA e leste do Canadá, tendo sido introduzida e estabelecida com sucesso na Europa e na Ásia. O primeiro registo europeu foi em Itália, mais concretamente em Pádua, no ano de 1964, tendo posteriormente sido detetada por toda a Europa Central e Meridional, nomeadamente na Áustria, Bulgária, Croácia, Chéquia, Alemanha, Grécia, Hungria, Sérvia e Montenegro, Eslováquia, Eslovénia, Espanha e Suíça.
No ano de 2007, a espécie foi detetada em Portugal, em Vila do Conde, Trofa, Porto e Rio Maior. Atualmente, volvidos 17 anos, a espécie encontra-se difundida de forma generalizada pelos plátanos de Portugal.
Caso 1
Em Paris, no ano de 2015, os médicos Arezki Izri, Valérie Andriantsoanirina, Olivier Chosidow e Rémy Durand examinaram um paciente do sexo masculino, na casa dos 20 anos de idade, cujo corpo apresentava há já algumas semanas diversas lesões com pruridos, as quais foram imediatamente identificadas como sendo picadas de insetos. Aquilo que inicialmente foi associado a picadas do inseto percevejo-das-camas (Cimex lecturaius) viria instantes depois a sofrer uma forte reviravolta. Durante o exame, o paciente sentiu uma ligeira picada no peito, tendo sido nesse local encontrado um pequeno inseto de 2-3 mm de comprimento, o qual foi identificado como sendo Corythuca ciliata. Posteriormente, outros pacientes foram examinados devido a sintomas similares, tendo os insetos encontrados sido alvo de observação com lupa para identificação entomológica. Aprovável presença de sangue humano no sistema digestivo dos insetos recolhidos foi um elemento comum a cada inseto.
Todos os insetos foram identificados de forma inequívoca como Corythuca ciliata por alinhamento da sequência genética. A presença de sangue humano em cada inseto foi também confirmada pelo alinhamento de sequências de ambos os genes em análise.
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Caso 2
Em Piemonte, no noroeste de Itália, no ano de 2011, um homem de 23 anos de idade e uma mulher de 18 deram entrada nos serviços hospitalares após terem desenvolvido uma erupção cutânea durante a noite anterior nas mãos, no pescoço e na cabeça.
Um entomologista procedeu a um rigoroso exame dos locais onde ambos tinham permanecido nas 24 horas anteriores. Quer na casa, quer nos restantes locais, não foram identificadas quaisquer pragas sugadoras de sangue até então conhecidas. No dia anterior às erupções cutâneas, ambos permaneceram durante um período de tempo significativo sob plátanos com forte ataque de Corythuca ciliata, tendo sido encontrados nas suas roupas diversos indivíduos desta espécie.
Caso 3
Em Turim, mas um ano antes, em 2010, uma mulher de 48 anos deu também entrada no hospital com diversas erupções cutâneas. O médico dermatologista suspeitou que os sintomas estivessem relacionados com picadas de insetos, tendo por isso recomendado à paciente ser avaliada por um entomologista antes de prescrever quaisquer tratamentos. O diagnóstico entomológico teve em consideração a casa bem como os restantes locais que a paciente tivesse frequentado antes do surgimento das reações cutâneas. A ausência de espécies hematófagas, à data conhecidas, foi confirmada pelo entomólogo. Contudo, a varanda na qual a mulher passava uma parte considerável do dia estava repleta de Corythuca ciliata, provavelmente provindos dos plátanos da avenida na qual a paciente residia.
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