Revista Jardins

Viagem aos Açores e camélias em flor

JARDIM DO PIQUINHO, AÇORES

 

A primeira viagem do programa de 2024 Jardins do Mundo foi aos Açores, entres os dias 12 e 17 de março, para visitarmos a Ilha Terceira, São Miguel com especial ênfase para as camélias em flor e um programa à volta destas magnificas flores nas Furnas.

 

Na Terceira só estivemos um dia e começámos a nossa visita pelo ponto mais alto da cidade, o Pico da Memória, de onde se têm vistas extraordinárias sobre a cidade e a baia de Angra.

O castelo de Angra do Heroísmo foi construído por Álvaro Martins Homem, um navegador e explorador português do séc. XV, 1º Capitão Donatário da Vila da Praia, nomeado após a partição da ilha Terceira em duas capitanias e 1474. Foi o fundador da Vila de Angra, hoje cidade de Angra do Heroísmo. Angra significa porto protegido, o sobrenome de Heroísmo foi-lhe acrescentado por Almeida Garrett bem como o de Vitória a Praia da Vitória.

 

 

Fizemos uma visita ao centro histórico de Angra, vimos:

O Palácio dos Capitães Generais, onde durante muito tempo funcionou aqui um colégio da Companhia de Jesus e onde hoje é uma das sedes da Presidência do Governo Regional.

A Sé Catedral diocese de Angra, que infelizmente sofreu um grande incêndio, provocado por alguém revoltado após o sismo de 1980, tendo destruído todo o seu interior. Visitámos também a praça principal e o Museu de Angra onde pudemos conhecer a história da cidade e da ilha, em termos agrícolas, económicos, sociológicos, etc.  A Igreja de Nossa Senhora da Guia, anexa ao Museu é também uma peça arquitetónica muito bonita.

 

 

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Centro de Interpretação da Serra de Santa Bárbara

No meio da Serra este foi um local de que gostei particularmente, pois pudemos perceber como se formou a ilha, como se desenvolveram os seus habitat naturais, qual a sua fauna e flora, quais são as espécies protegidas.

Ficámos também a saber que todos os dias há pequenos sismos, mas que todos os açorianos se habituaram a viver com eles.

São muitas as pedras resultantes das erupções vulcânicas que tivemos oportunidade de conhecer: basalto, lapilia, obsidiana, vidro vulcânico, etc.

 

Algar do carvão

Este foi um dos locais mais fascinantes onde estive nesta viagem, descer à cratera do vulcão, que está coberta de vegetação, olhar para cima e ver todas aquelas paredes cobertas de musgos, é algo único e maravilhoso.

 

Algar do Carvão

 

São Miguel

Voamos para São Miguel e ficámos dois dias em Ponta Delgada e dois dias nas Furnas e os nossos dias foram muito bem aproveitados, do primeiro ao ultimo minuto!

 

Lagoa das Sete Cidades – Jardim Pitoresco

Começamos por visitar este jardim, é também um dos jardins de António Borges, da sua antiga casa de veraneio, situa-se mesmo à entrada das Sete Cidades, numa localização extraordinária. Sobressai a beleza da casa, de traçado geométrico, rodeada de azáleas e plátanos.

O jardim tem hoje uma área de cinco hectares e a casa pode ser arrendada para quem quiser aqui passar uns dias. Foi plantado entre 1850 e 1855 e tinha uma coleção de plantas muito interessante composta por banksias, metrosideros, melaleucas, eucaliptos, próteas, coníferas, criptomérias, etc.

 

 

Palácio de Santana

Este Palácio também conhecido por Palácio de Jácome Correia ou Palácio da Presidência (uma vez que desde 1980 funciona como sede da Presidência do Governo Regional), foi construído no século XIX pelo Morgado José de Jácome Correia, e melhorado pelo Marquês de Jácome Correia seu sobrinho. Tanto o Palácio como os jardins estão classificados como Imóvel de Interesse Público e como Monumento Regional.

A arquitetura da casa é notável, estando muito bem integrada no jardim e na envolvente. A fachada principal tem um elegante perfil neoclássico, muito ao gosto da época, composta por um cinco partes com pavilhões nas extremidades e um corpo central. No interior nota-se uma grande liberdade de estilos, que resulta em ambientes ecléticos, profusamente decorados, muito alegres, elegantes e modernos para a época.

Também os jardins são emblemáticos, quer pelo traçado, quer pelos exemplares botânicos, de destacar o exemplar notável de Metrosideros excelsea, que parecem vários exemplares, embora seja uma só.

 

 

Jardim José do Canto

Fizemos depois uma visita guiada a este jardim, onde é sempre um gosto voltar. Pensado por José do Canto para albergar uma grande coleção botânica, vinda dos quatro cantos do mundo, chegou a ter mais de 4000 plantas diferentes.

Quando da sua morte o jardim fica entregue aos seus descendentes, Augusto de Ataíde e  sua mulher Maria da Graça Hintze Ribeiro Jardim, que aí constroem uma casa em estilo neoclássico. É o sei filho Augusto de Ataíde Soares de Albergaria quem irá recuperar o jardim, que tem uma coleção de plantas notáveis, Ficus, magnólias, melaleucas, coníferas, bambus, roseiral, etc.

 

 

Jardim António Borges

Este é hoje um jardim municipal do centro da cidade de Ponta Delgada e tem cerca de 2,5 hectares. Foi concebido há cerca de 150 anos pelos seu proprietário e criador (António Borges) como um jardim pitoresco.

A coleção botânica foi trazida de vários pontos do globo, nomeadamente de Inglaterra e da Bélgica, o que resultou num jardim muito frondoso, luxuriante com exemplares de árvores notáveis, quer exóticas como o Ficus benjamina, quer da flora nativa como o dragoeiro ou o pau-branco.

Este jardim esteve durante muitos anos com graves problemas de manutenção, tendo sido reabilitado em 2005.

 

 

Ananases Arruda

Aprendi muito nesta visita. O ananás gosta de zonas com calor e sol. O ciclo começa com a plantação a partir de uma planta antiga, as raízes vão dar novas plantas que são transplantadas e demoram cerca de 18 meses a maturar. Aqui o ananás tem de estar em estufa, para garantir a maturação dos frutos faz-se a aplicação de fumo ao fim de nove meses, para estimular a floração.

 

 

Chá Gorreana

A Fabrica de chá Gorreana é a mais antiga fábrica de chá da Europa, ainda em funcionamento. Foi fundada em 1883 por Ermelinda Gago da Câmara, e até hoje continua a ser uma empresa familiar.

Aqui toda a produção, que pode ser visitada, é feita de forma biológica, sem recurso a quaisquer pesticidas, herbicidas ou fungicidas. A colheita é feita entre abril e outubro, e o chá daí resultante é um produto 100% orgânico.

Hoje em dia a propriedade tem 32 hectares de plantações de Camellia sinensis, a planta do chá, produzindo cerca de 40 toneladas por ano.

 

 

Quinta da Torre – Capelas

Este foi um dos momentos altas da viagem, fomos recebidos pelo seu proprietário, Pedro Pacheco, que nos guiou pela sua extraordinário produção biológica, que faz desde 1998 e onde tudo funciona de acordo com a natureza.

Esta quinta guarda diversas evidencias de como seria e da forma como se formou o solo arável que hoje possui, e onde anteriormente era impossível cultivar, uma vez que esta zona é muito rochosa.

O coberto originário desta zona, antes de ser povoada (nas primeiras décadas do século XVI) seriam provavelmente loureiros dos Açores (Laurus azorica), alguns pau-branco (Picconia azorica), as faias também nativas (Morella faya), que hoje em dia convivem com as exóticas introduzidas como: eucalipto, o til (Ocotea foetens), o lodão, e o incenso (Pitosporum undulatum) que aparece por todo o lado.

Em alguns locais aparecem algumas covas circulares, que serão provavelmente provenientes das primeiras plantações de vinha e árvores de fruta.

Aqui existem todo o tipo de fruteiras, mangas, papaias, mangustão, anonas, tamarilhos, citrinos vários, e também muitas leguminosas, incluindo o feijão guandu, muito usado para a alimentação humana, animal e também como adubo verde. Também aqui existe um secador solar para as plantas aromáticas e outros produtos que se pretendam conservar desta forma.

 

 

Furnas

Parque Terra Nostra – Terra Nostra Garden Hotel

Estes dois dias foram um dos temas principais da viagem e um programa especialmente preparado para o nosso grupo.

Começámos logo com um magnifico cocktail de boas vindas que tem na sua base camélia, seguido de um jantar onde a comida não poderia ser melhor. Tivemos um interessante workshop dedicado ás camélias com a Carina Costa, uma das responsáveis pela manutenção do Parque, onde ficamos a conhecer melhor estas plantas, e terminámos com uma visita guiada à coleção de camélias do Parque, com mais de 800 cultivares diferentes. Nesta época que estão em plena floração são um verdadeiro espetáculo para os sentidos!

 

 

Jardim do Piquinho

Fomos muito bem recebidos pelo proprietário, Estevão Gago da Câmara que nos fez uma visita guiada a este parque que se eleva no cume da montanha que circunda as Furnas. Foi maravilhoso descobrir este espaço único, com o seu lago enorme com as margens onduladas, onde se abrem arcos rochosos com grutas, que neste momento estão meias submersas, uma vez que toda esta zona do jardim sofreu grandes deslizamentos de terras na década de 1930. O parque foi todo recuperado na época, a coleção botânica é notável, tem um grande número de camélias raras e muito bonitas. Uma alameda de sequoias também únicas, no meio do relvado um exemplar notável de castanheiro.

 

 

Mata Jardim José do Canto

Visitamos este local tão especial, guiados pela historiadora Isabel Soares de Albergaria, especialista em jardins, que nos apresentou esta mata tão especial, que ainda chegou até hoje com 120 hectares, e uma zona ajardinada de cerca de 10 hectares.

As encostas verdes repletas de vegetação são completamente densas e fazem um magnifico contraste com o azul da lagoa. A mata foi desenhada e plantada em meados do século XIX, por ordem de José do Canto, segundo o plano dos paisagistas franceses Barrilet Deschamps e George Aumont.

A Capela de Nossa Senhora das Vitórias, um dos ex-libris que marca toda a imagem da lagoa das Furnas, foi edificada entre 1877 e 1888 e é onde José do Canto e a sua mulher Maria Guilhermina estão sepultados.

A mata é de uma enorme beleza, começou a ser plantada em 1858 e está aberta ao publico desde 2014. Aqui pudemos observar algumas das camélias da coleção que se encontram plantadas ao longo das alamedas.

No percurso até ao Vale dos Fetos, uma das zonas mais emblemáticas, podemos apreciar variadas árvores de grande porte, como os tulipeiros, azinheiras, carvalhos-dos-pântanos, sequoias, araucárias, etc.

 

 

 

Parque Beatriz do Canto

Este foi o ultimo jardim que visitámos nesta nossa viagem açoriana. Em meados do século  XIX cinco proprietários de Ponta Delgada, alguns já nossos conhecidos de outros jardins (Ernesto do Canto, António Borges, José Raposo do Amaral, José Jácome Correia, António Francisco Botelho de Sampaio Arruda) que tinham por hábito passar temporadas na Furnas durante os meses de verão, decidiram converter este espaço num parque para recreio publico.

Contrataram para este projeto o jardineiro inglês George Brown,  que desenhou o lago, os caminhos, etc. O plano também previa a implantação de cinco moradias. No entanto só Ernesto do Canto construiu o seu Chalet, que ainda existe, este posteriormente adquiriu as cotas dos outros sócios, ficando o único proprietário.

Durante a administração da sua herdeira Beatriz do Canto Faria e Maia, o parque sofreu muitas derrocadas por causa de intempéries e também muitas obras de melhoramentos. Por respeito à vontade dos seus fundadores, Beatriz manteve sempre o parque aberto em agosto gratuitamente á população.

 

 

Podem ler a reportagem completa na edição de junho da revista Jardins.

 

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Mais informações

https://www.josedocanto.comhttps://gorreana.pt/pt/https://www.ananasesarruda.comhttps://www.bensaudehotels.com/terranostragardenhotelhttps://portal.azores.gov.pt/web/palacios-da-presidencia/palacio-de-santana

 

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