Jardins & Viagens

As maravilhas de Marraquexe e o encanto do deserto Merzouga

JARDIM MAJORELLE

 

Uma viagem fantástica em Marrocos, com uma passagem pelo deserto e a descoberta de Marraquexe. Tratou-se, absolutamente, duma experiência maravilhosa.

 

Voámos diretamente para Marraquexe, cujo nome significa “a rosa entre as palmeiras”, uma vez que há mais de 12.000 palmeiras a rodear a cidade e grande parte dos edifícios da cidade é cor-de-rosa. É uma das quatro cidades imperiais, com uma fabulosa medina, tendo a vantagem de ser uma cidade completamente plana, onde é muito fácil caminhar. Ficámos a saber pelo nosso guia que o rei visita muitas vezes a cidade, principalmente entre setembro e janeiro.

Almoçámos no jardim de um Riad (um hotel boutique que era um antigo palácio). Foi uma excelente forma de começar a viagem; tivemos um almoço magnífico num ambiente muito requintado.

 

Ouezazarte – Estúdios do Atlas

Quando saímos, tínhamos os jipes à nossa espera para irmos para Ouezazarte, conhecida como “Hollywood de Marrocos” pois tem vários estúdios onde foram gravados muitos filmes. Ficámos no hotel dos estúdios do Atlas, os maiores e mais antigos do continente africano, onde foram gravados partes de filmes e séries como: A Joia do Nilo, O Gladiador, 007, Cleópatra, Astérix e Obélix, Tutankhamon, a 3.ª temporada da Guerra dos Tronos. Muitas vezes o mesmo cenário é adaptado para vários filmes. No dia seguinte de manhã, fizemos uma visita guiada aos estúdios, tendo visitado cenários de vários filmes e também de anúncios de TV. Depois seguimos de jipe pela impressionante paisagem do deserto e das montanhas do Atlas e de Arizona Tichka, até ao deserto de Merzouga e ao nosso acampamento.

 

ESTUDIOS DO ATLAS

 

Deserto de Merzouga

Chegámos ao nosso acampamento (Sahara Desert Luxury Camp) no deserto mesmo a tempo de montarmos nos camelos e caminharmos para vero magnífico pôr do sol no deserto, que é indescritível pelas cores e por todo o ambiente. Uma experiência que penso que ninguém esquecerá.

Acampar no deserto, dormir numa tenda (mesmo com todas as comodidades, incluindo casa de banho com duche), assistir a um espetáculo de música berbere à volta de uma fogueira no meio do deserto, acordar para ver o nascer do sol e ver os camelos a dormir em círculo mesmo ali ao lado foi de facto muito diferente e emocionante; nunca pensei gostar tanto desta minha primeira experiência no deserto.

 

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Ait Ben Haddou

No dia seguinte, regressámos diretos a Marraquexe, uma viagem que leva o dia todo, apenas com paragem num mercado de tâmaras e depois em Ait Ben Haddou, uma vila património da Unesco e comum kasbah muito bem conservado. Aqui foram gravados variadíssimos filmes, entre eles, alguns episódios da 3.ª temporada da Guerra dos Tronos e algumas cenas do Gladiador.

A vista que se tem do topo do kasbah, sobre toda a planície circundante, é fabulosa. Passámos o dia todo em viagem por maravilhosas paisagens e chegámos a Marraquexe já à noite, tendo ficado instalados mesmo à entrada da medina, no maravilhoso hotel Jardins de la Koutoubia, que significa “biblioteca”, pois este era o bairro das bibliotecas e livrarias. Mesmo ao lado encontra-se a mesquita de la Koutoubia.

 

 

Catos Thiemann

No primeiro dia na cidade, visitámos exclusivamente jardins e começámos pelos catos Thiemann. Fomos recebidos pela filha do fundador, Magda Thiemann, que nos fez uma visita guiada ao viveiro, a maior plantação de catos em África desde 1964. Hans Thiemann, o fundador, engenheiro e hortícola alemão que já produzia catos na Alemanha com sucesso desde 1950, sendo um especialista nesta área, correspondia-se com outros especialistas e viajava para conhecer as plantas e recolher sementes.

Em 1956, numa viagem ao norte de África, apaixonou-se por Marraquexe e, em 1961, decidiu mudar a sua produção para onde está hoje, a cerca de 15 quilómetros do centro da cidade.

 

 

O local é o ideal, pois está longe o suficiente para terem espaço e tem vista sobre o palmeiral do Atlas, estando simultaneamente perto do centro. Aqui o clima é propício ao desenvolvimento destas plantas, mas mesmo assim exigente, e há que se adaptar a produção. A propriedade tem sete hectares e aqui começam a produzir exemplares de excelente qualidade e a exportar para todo o mundo, em especial para os Países Baixos, a Alemanha, a Suíça e a França. Durante duas décadas foi o que fizeram, mas neste momento deixaram de exportar plantas e vendem em exclusivo para o mercado local, tendo-se especializado em exemplares de coleção, plantas grandes, com grande valor e que são difíceis de encontrar no mercado.

O segredo da sua produção é ser feita apenas com um bom substrato e boa água. Deixam sempre os catos ficar com os frutos, pois assim ficam mais protegidos. O cato mais antigo tem 85 anos. Têm uma enorme variedade de catos, como aloés, agaves, Astrophytum, Azureocereus, Cereus, Echinocereus, Euphorbia, Ferocactus, Mammillaria, Opuntia, Pilosocereus, Polaskia, etc. Neste momento, o jardim também é arrendado para eventos privados.

 

 

Jardins de Menara

São um excelente exemplo da arquitetura islâmica. Criados no século XII durante o período da dinastia Almohad, estes jardins foram originalmente projetados como um retiro real pelo sultão Abd al-Mu’min (1130-1163). Este tanque era usado para armazenar água que vinhado Atlas, que servia para beber, para regar as árvores de fruto e também para ensinar os soldados a nadar, para os preparar para a travessia do Mediterrâneo para a invasão da Andaluzia.

No século XVI, este jardim foi remodelado pela dinastia dos Saadianos, tendo sido acrescentado um pavilhão, que servia para descanso e lazer, pois este jardim era muito utilizado para passeios. A envolvente do jardim tem hoje vastas áreas plantadas com oliveiras, mais de 12.000.

 

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Jardim Majorelle e Museu Yves Saint Laurent

Este é um dos locais mais icónicos e visitados da cidade, graças à sua coleção de plantas dos cinco continentes; poder-se-ia quase dizer que é um pequeno jardim botânico, que combina a beleza natural com história cultural, e é sem dúvida uma obra-prima artística e paisagística. Foi idealizado pelo pintor francês Jacques Majorelle (1886-1962), que se instalou em Marraquexe em 1919. Em 1923, comprou um terreno que tinha apenas palmeiras e, em 1931, contratou o arquiteto Paul Sinoir para construir uma casa em estilo art déco com influências mouriscas e berberes. Paralelamente, começou a criar o jardim, trazendo plantas exóticas e raras de várias partes do mundo, como catos (muitos deles vieram dos catos Thiemann que visitáramos anteriormente), bambus, palmeiras e plantas aquáticas. Em 1947, Jacques Majorelle abriu o jardim ao público, no entanto, após a sua morte, em 1962, o local entrou em decadência.

Em 1980, o estilista francês Yves Saint Laurent e o seu companheiro Pierre Bergé decidiram adquirir o jardim para evitar que fosse destruído por um projeto hoteleiro. Restauraram o espaço, adicionaram novas espécies de plantas e modernizaram o sistema de rega. Desde então, o jardim tornou-se não apenas um refúgio de paz mas também de inspiração.

 

 

O jardim é famoso pelo azul-Majorelle, uma tonalidade vibrante criada por Jacques Majorelle em 1937. Este azul cobre as paredes da casa e outros elementos arquitetónicos do jardim, contrastando com o verde exuberante das plantas. O espaço alberga cerca de 3000 espécies botânicas provenientes dos cinco continentes. Entre as plantas destacam-se catos, buganvílias, jasmins, nenúfares, lótus e palmeiras.

 

Museu Yves Saint Laurent Marraquexe

O antigo estúdio de Jacques Majorelle foi transformado no Museu Berbere em 2011, sendo dedicado à cultura deste povo do norte de África. Além disso, existe o Museu Yves Saint Laurent Marraquexe, que também visitámos, que celebra a obra do estilista e tem uma coleção notável de vestidos e das flores nas coleções de Yves Saint Laurent; infelizmente, não pode ser fotografado. Após a morte de Yves Saint Laurent, em 2008, as suas cinzas foram espalhadas no roseiral do jardim e um memorial foi erguido em sua homenagem.

A casa no interior do jardim foi reconhecida como Maison des Illustres pelo Ministério da Cultura francês em 2011. O Jardim Majorelle é hoje administrado pela Fundação Jardim Majorelle e continua a ser um símbolo de arte, Natureza e história cultural marroquina.

 

 

Hotel La Mamounia

Inserido numa propriedade de 15 hectares, este é o hotel mais emblemático de Marraquexe, sendo considerado um dos melhores hotéis do mundo. É um palácio extraordinário que remonta ao século XVIII, quando o sultão alauita Mohammed Ben Abdallah o deu de presente ao seu filho, o príncipe Moulay Mamoun, quando este se casou.

O hotel foi desenhado pelos arquitetos Henri Prost e Antoine Marchisio, que o projetaram numa estrutura que combina códigos ancestrais de arquitetura marroquina com estilo art déco. Desde os anos 1950, personalidades do cinema francês e de Hollywood começaram a visitar o hotel, caso, por exemplo de Charles Chaplin, Marcello Mastroiani, Francis Ford Coppola, etc. Os jardins são magníficos e contêm uma fabulosa coleção de plantas, árvores, flores, oliveiras, laranjeiras, etc. No jardim onde existe uma casa de chá onde desfrutámos dum elegante e aprazível chá das cinco.

 

 

 

Palácio Bahia

É um magnífico exemplo da arquitetura marroquina e islâmica do século XIX. Construído entre 1866 e 1867, por Si Moussa, o Grande Vizir do Sultão, o palácio ocupa uma área de oito hectares no coração da medina de Marraquexe.

O nome “Bahia” significa “brilho” ou”beleza” em árabe, refletindo a grandiosidade pretendida para o palácio. A construção inicial foi ampliada significativamente por Ba Ahmed, filho de SiMoussa, que assumiu o poder em 1894 e continuou a investir em melhoramentos no palácio até à sua morte, em 1900.

O Palácio Bahia é composto por 150 quartos, diversos pátios e jardins, um harém para as quatro esposas e 24 concubinas de Ba Ahmed, trabalhos em estuque muito pormenorizados, mosaicos de azulejos zelligee tetos esculpidos em madeira. Existe ainda um grande pátio com fonte central e pisos de mármore, mas, infelizmente, estava em obras, não tendo, por isso, sido possível vê-lo bem. O palácio foi projetado para capturar a essência do estilo islâmico e marroquino, com todos as divisões construídas no mesmo nível para facilitar a mobilidade do vizir, que, segundo parece, era muito obeso.

Após a morte de Ba Ahmed, o palácio foi saqueado e, posteriormente, ocupado pelo residente-geral francês durante o Protetorado. Atualmente, o Palácio Bahia é um museu histórico, utilizado para receções de autoridades estrangeiras e parcialmente ocupado pelo Ministério da Cultura marroquino.

 

 

Túmulos Saadianos

São um importante complexo funerário que data do final do século XVI, construído durante o reinado do sultão Ahmed al-Mansur, da dinastia Saadiana. Foram redescobertos, em 1917, pelo general francês Hubert Lyautey, mas, como ficaram escondidos por séculos, enterrados sob vegetação densa, estes túmulos estão hoje em excelente estado de conservação.

O complexo abriga os restos mortais de cerca de 60 membros da dinastia Saadiana, incluindo o próprio sultão Ahmedal-Mansur. A arquitetura é notável pela sua opulência, apresentando trabalhos pormenorizados e magníficos em estuque, azulejos coloridos, colunas de mármore de Carrara e tetos abobadados. O mausoléu principal é composto por três salas, sendo a mais famosa o Salão das Doze Colunas, onde estão enterrados os filhos do sultão.

O complexo também inclui um jardim florido no exterior, onde se encontramos túmulos de soldados e servos.

 

 

Farmácia berbere

Tivemos oportunidade de visitar uma farmácia berbere, que é um estabelecimento tradicional marroquino onde se comercializam produtos cosméticos e farmacêuticos elaborados com ingredientes naturais. Neste local, é possível encontrar produtos feitos por exemplo com óleo de argão, que é muito característico da região e muito utilizado para a hidratação da pele e do cabelo.

Os berberes, um dos povos mais importantes de Marrocos, têm uma longa tradição de utilização de produtos naturais para cuidados de saúde e beleza. Aqui explicaram-nos como se utilizamos vários produtos cosméticos e farmacêuticos, mas também especiarias, como açafrão, curcuma, cominhos, pimenta ouras al hanut, e também chás e tisanas, como o famoso chá de menta ou o chá berbere, etc.

 

 

Jardim Secreto

Este é um espaço histórico e cultural situado no coração da medina de Marraquexe. Trata-se de um jardim que originalmente remonta à dinastia Saadiana, há mais de 400 anos, e que reflete as tradições arquitetónicas e de jardinagem islâmicas. Fazia parte na sua origem de um complexo palaciano, tendo sido reconstruído, no século XIX, por um influente kaid do Atlas, servindo igualmente como residência de figuras políticas importantes até cair em abandono no final do século XVII.

O seu restauro, que foi iniciado em 2013, devolveu-lhe o esplendor original, preservando tanto a arquitetura quanto o sistema hidráulico tradicional. O projeto foi elaborado pelo arquiteto paisagista inglês de renome internacional Tom Stuart-Smith.

 

Estrutura e Design

O jardim está dividido em duas áreas principais:

Jardim Islâmico – Baseado no conceito charbagh, apresenta uma estrutura geométrica que simboliza os quatro rios do Paraíso descritos no Alcorão. No jardim islâmico todas as árvores são aquelas que se poderiam encontrar num jardim marroquino tradicional, a figueira, a oliveira, a tamareira, a romãzeira, o limoeiro, a laranjeira e a árvore de onde se extrai o óleo de argão (Argania speciosa), Jasminum officinale, Jasminum polyanthum, Lavandula dentata var. Candicans (alfazema), lúcia-lima, murta, rosas, alecrim, sálvia.

Jardim Exótico – Abriga uma vasta coleção de plantas provenientes de várias partes do mundo, destacando a biodiversidade e a adaptabilidade ao clima árido da região, criando contrastes de formas, texturas e florações. Podemos destacar vários catos e suculentas, muitos deles também provenientes dos catos Thiemann, onde estivéramos anteriormente, tais como as agaves e os aloés. O jardim inclui elementos como mosaicos zellige, painéis de madeira esculpidos e fontes que refletem a arte islâmica. Existe uma torre panorâmica, uma construção moderna integrada durante o restauro que oferece vistas impressionantes sobre a medina e as montanhas do Atlas. O espaço promove a conservação da biodiversidade e práticas sustentáveis através das suas coleções botânicas.

O Jardim Secreto oferece um refúgio tranquilo com trilhos, fontes e espaços para relaxar. Além disso, os visitantes podem desfrutar de um café com especialidades marroquinas e explorar exposições sobre a história e o restauro do local. É uma oportunidade única para mergulhar na história, arquitetura e Natureza da cidade.

A zona da medina onde está inserido o jardim é muito bonita e merece um passeio pelas ruas e pelas lojas com calma, usufruindo de todo este magnífico espaço e ambiente.

 

Já tinha vindo a Marrocos algumas vezes, mas desta vez foi especial e fiquei com vontade de voltar novamente e conhecer as outras cidades imperiais.

 

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Fotografias de Luís Cabelo.

 

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