Jardins do Mundo

Os fabulosos irmãos Bawa

BRIEF - LAGO

 

Uma das aprendizagens que me trouxe a viagem ao Sri Lanka, foi ter conhecido o fantástico trabalho dos irmãos Bevis e Geoffrey Bawa e ter tido a sorte de estar em dois hotéis desenhados por Geoffrey, o Kandalama e o Bentota e de no final visitar a casa e jardim de Bevis, Brief. Os dois foram geniais em tudo o que fizeram profissionalmente e a sua história de vida é igualmente fascinante.

 

Os irmãos Bawa

 

Estes dois irmãos eram geniais, um arquiteto, que inicialmente era advogado, mas mais tarde deixou a advocacia para a qual estudou apenas porque o pai, que era um advogado muito bem sucedido, queria muito que o filho mais novo seguisse a sua profissão. Cedo ele percebeu que a sua vocação era a arquitetura e revelou-se um excelente arquiteto, tendo sido considerado o melhor arquiteto do Sri Lanka e um dos melhores do mundo.

O seu irmão mais velho Bevis, era militar, mas mais tarde a sua vocação veio a revelar-se ser o paisagismo.

Os dois irmãos filhos de uma mãe de ascendência holandesa e de um pai de ascendência inglesa, tinham 10 anos de diferença, Bevis era o mais velho e não se davam. Estudaram ambos foram, em Inglaterra e viajaram e viveram muitos anos fora do Sri Lanka andaram sempre desencontrados e não tinham quase ligação um com o outro, nem em criança, nem em jovens, nem mais tarde em adultos. Mesmo tendo trabalhado na mesma área profissional.

 

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Hotel Kandalama

 

KANDALAMA HOTEL

 

Logo nos primeiros dias em que chegámos ao Sri Lanka, ficámos instalados num hotel único, no meio da reserva de Kandalama.

O Heritance Kandalama, projetado nos aos 90 pelo arquiteto mais famoso do Sri Lanka Geoffrey Bawa. Foi construído entre 1991-1994 e é um hotel completamente integrada na paisagem e no terreno. Foi escavado na encosta e mal se vê, só quando estamos mesmo a chegar nos apercebemos da sua presença. Entramos por um túnel escavado na rocha, a receção é totalmente no exterior e todos os quartos e casas de banho  têm uma fantástica vista para o exterior e estão rodeados de vegetação (é perigoso abrir as varandas pois os macacos rapidamente entram… tive essa experiencia, distrai-me e entrou-me um pelo quarto a dentro !).

É considerado a obra prima deste arquiteto e um exemplo da chamada arquitetura modernista tropical. Uma decoração primorosa, elegante, minimalista, sustentável, requintada e com um bom gosto exemplar, daqueles sítios onde menos é mais e onde eu não mexia em nada… está perfeito como está.

 

 

Também as peças de arte são escolhidas primorosamente e muitas vezes na obra de Geoffrey estão na sua equipa artistas como Eda de Silva, entre outros.

Também os engenheiros e as equipas de construção de que Bawa se rodeava eram excelentes profissionais, pois de outra forma seria impossível construir as peças de arquitetura que ele projetava. A construção deste hotel é algo muito complexo e arriscado se não te tiverem excelente técnicos.

 

 

O exterior é igualmente fantástico, as piscinas, as circulações, as vistas… e fomos premiados com um elefante a passear pela envolvente de manha bem cedo. Tinha chovido muito, o lago estava com muita água e aparentemente ele não conseguia passar e andava por ali há uns dias. Foi maravilhoso, aprendi nesta viagem que os elefantes asiáticos machos vivem sozinhos e que as fêmeas andam sempre aos pares com uma cria de uma delas (a mãe e a tia). E que os elefantes namoram antes de acasalar.

 

Cinamon Bentota beach

 

Para os últimos dias da viagem, tínhamos guardado um magnifico hotel à beira mar, também ele projeto de Geoffrey Bawa, dos anos 90 mais precisamente de 1967, tendo sido o primeiro hotel resort do Sri Lanka, mas que foi todo remodelado em 2019. Os tetos icónicos pintados são obra da maravilhosa artista plástica Ena de Silva e os tecidos são da artista Barbara Sansoni fundadora da marca Barefoot, ainda hoje uma marca de referencia no Sri Lanka e em todo o mundo.

 

 

Este hotel foi construído em cima de um forte, e a entrada é maravilhosa, bem como a escadaria. Cá em cima tudo é aberto para um pátio onde temos jardim, um espelho de água e uma árvore monumental.

Todas as salas, zonas sociais, zonas de refeições, quartos, etc. são primorosamente decoradas, abertas para o exterior, envoltas em magníficos jardins e viradas para o rio e para o mar.

As piscinas estão completamente integradas no jardim e passa-se de umas para as outras na mais perfeita fluidez, tudo funciona bem, um trabalho de arquitetura e de arquitetura paisagista perfeitos.

 

 

Brief – jardim de Bevis Bawa

 

No último dia, antes de regressarmos a Colombo, fomos visitar a casa e o jardim de Bevis Bawa. Hoje em dia a casa e o jardim pertencem a Dooland da Silva, que tinha trabalhado com Bevis e que nos recebeu de forma muito simpática.

 

 

A origem de Brief

Bevis ficou a tomar conta desta propriedade da família, Brief onde se produzia borracha, tinha cerca de 80 hectares. Rapidamente se provou que ele era um péssimo gestor e que a borracha pouco rendimento lhe trazia, ele gostava mesmo era de receber os amigos e de se dedicar a projetar e fazer o seu jardim, o que fazia com grande arte e ajuda dos seus amigos ligados às artes.

 

 

Como nasceu o jardim

Um grande amigo dele ligado ao teatro ajudou-o a desenhar o jardim, com recurso a vários efeitos cénicos, e isso é bem marcante quando o visitamos. Há muitas coisas para ver, muitas coisas escondidas, muitos ângulos, muitos cenários montados. A artista Barbara Sansoni fundadora da Barefoot, também aqui tem algumas intervenções, a parede de garrafas onde está a escultura do rapaz. O seu grande amigo escultor e pintor Donald Friend é o responsável pela maior parte das esculturas e grandes vasos que encontramos pelo jardim. Uma das peças mais icónicas, é a pérgula com o ananás no topo, nos anos 40 ele dedicou-se a fazer o seu jardim. Nos anos 50 já tinha uma estufa de plantas e o seu jardim era tão famoso que vinham pessoas de todo o lado para o visitar e começou a ter encomendas de projetos de jardins. Foi ai que começou a fazer jardins de hotéis, embaixadas, casas particulares, bancos, etc. Curiosamente nunca foi convidado pelo irmão para trabalhar com ele, consta até que o irmão recomendava aos clientes que não o cotratassem.

Bevis era um personagem muito conhecido da sociedade cingalesa, um ótimo contador de histórias e caricaturista, começou até a escrever uma crónica para o Sunday Observer que se tonou muito popular.

 

 

A casa e o jardim, estão agora abertos ao publico, embora tenham poucas visitas, quando estávamos a visitar eramos apenas nós, e tivemos um chá e bolinhos no jardim que é magnifico, talvez dos mais bonitos que tenho visto. Com os elementos de água, pedra e vegetação perfeitamente enquadrados entre si. A casa encaixada no meio da vegetação, em tempos havia vários bungalows e cada um tinha o seu jardim, mas isso agora já não existe. Mas aqui nada é deixado ao acaso e até a casa de banho no jardim é uma obra prima.

À volta da casa há uma série de pátios, com uma moon gate uma porta redonda coberta de vegetação que conduz a pátio intimista onde encontramos a parede de garrafas, um elemento de água, várias esculturas, a casa de banho do jardim, tudo muito cénico.

 

 

Atravessando a casa, temos um pátio quase andaluz, pintado de branco com uma imagem de cristo, uma enorme buganvília cor-de-rosa e um tanque de água de forma geométrico.

As pérgulas que envolvem a casa convidam ao descanso, ao lazer, são bonitas, enquadram e transmitem conforto e frescura.

Este jardim e esta casa forma dos sítios que mais gostei de visitar no Sri Lanka, a beleza das helicónias, das calatheas, das bromélias, das palmeiras, dos fetos, das avencas, todo este ambiente meio selvagem e naturalizado, encantou-me e a casa deixou-me fascinada, é de um bom gosto, elegância e sofisticação.. não mexia em nada, e mudava-se para cá já amanhã! Terminámos da melhor forma, fiquei com vontade de visitar o jardim do outro irmão, mas fica para a próxima.

 

Leia também:

Roma e Toscânia (parte I)

 

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