Conheça o original jardim do terraço da embaixada do Canadá em Tokyo, concebido pelo famoso paisagista japonês Shunmyo Masuno.
Parece um terramoto” foi o comentário de uma pessoa amiga quando lhe mostrei as fotografias que tirei ao “jardim” do terraço da embaixada do Canadá em Tokyo. E, de facto, para o olhar ocidental, esta composição é tão estranha que dificilmente se aprecia.
Em vez de harmonia, há uma aparente desorganização, não tem uma única planta, é de uma austeridade quase deprimente. No entanto, todos os elementos têm um determinado significado e nada lá está por acaso.
O autor: Shummyo Masuno
O edifício de quatro andares da embaixada foi construído em 1991, pela mão do arquiteto Raymond Moriyama, e o arranjo do enorme terraço que circunda três dos lados da construção foi encomendado ao monge budista Shunmyo Masuno, um dos arquitetos paisagistas de mais renome no Japão contemporâneo.
Tal como os jardins secos dos templos budistas, o terraço é para ser contemplado do interior todo envidraçado da embaixada, embora permita que alguns curiosos como eu o percorram a pé para melhor usufruir da sua composição.
A ideia de Masuno era criar um espaço onde os visitantes e o pessoal da embaixada pudessem contemplar uma representação abstrata do Canadá e do Japão através de referências geográficas dos dois países incorporadas no design do jardim.
O jardim
Tratando-se de uma embaixada, só se pode entrar depois de mostrado um passaporte, e carteiras, mochilas e sacos são revistados pelos seguranças.
Situado no último andar do edifício, acede-se ao terraço por umas escadas rolantes exteriores, ao cimo das quais uma escultura em metal de Ted Bieler nos sugere as ondas que quebram nas margens na costa atlântica do Canadá.
Caminhando em direção a norte, enormes blocos de granito parecem à primeira vista resultado do tal terramoto, mas um olhar mais atento decifra neles a paisagem monumental e agreste do Canadá.
Umas dezenas de metros à frente, já perto da esquina, encontramos uma escultura feita com pedras empilhadas representando a cultura nativa dos Inuksuk e, logo a seguir, três pirâmides geométricas remetem-nos para as montanhas Rochosas.
Ao longo do terraço avista-se o arvoredo do palácio de Akasaka bem como os edifícios de mais de 30 andares que caracterizam a cidade de Tokyo e que desempenham a função do shakkei, ou paisagem emprestada, recorrente nos jardins japoneses.
Um lago e uma pequena cascata cujo som se impõe ao ruído do trafego representam o oceano Pacifico que atravessamos saltitando por umas stepping stones que conduzem à zona nascente do terraço onde encontramos a representação do Japão.
Mais intimista, o jardim recorre aos elementos que encontramos nos jardins secos dos templos budistas zen: a areia penteada representando água; os pedregulhos que são ilhas ou montanhas; os caminhos de pedra em desenhos formal e semiformal; uma sebe feita de bambu, em curva, para esconder a fealdade do cimento da parede.
Ao fundo desta composição, duas pedras enormes que parecem encaixar-se uma na outra são a imagem do bom entendimento entre os dois países.
Por muito estranho que nos pareça este jardim, garanto que é mais fácil de decifrar que o Ryoan-ji, de 1499, com as suas 15 pedras e as 16 exegeses já publicadas sobre o significado da sua organização.
O terraço da embaixada da Canadá é um excelente exemplo do jardim seco japonês – kare san sui – contemporâneo, que, usando as regras das composições tradicionais, reinventa a sua organização sem desvirtuar os princípios do espírito zen.
“MUITOS JARDINS NA EUROPA E ESTADOS UNIDOS SÃO ETIQUETADOS COMO JARDINS ZEN, mas só o são os que foram criados por um praticante do Budismo Zen podem ser considerados verdadeiros Jardins Zen” diz Shunmyo Masuno.
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