O buxo, desde a antiguidade, tem sido utilizado nos jardins com diversas finalidades, nomeadamente a estruturação e organização do espaço, influenciando os visitantes através do jardim.
Com efeito, um pouco por toda a Europa, os jardins do período renascentista caracterizam-se pelo uso em larga escala de sebes compostas por buxo.
Esta espécie assume-se como uma das mais relevantes no contexto dos jardins portugueses dessa época. Contudo, a ação conjunta de agentes abióticos (solo e clima) e de agente bióticos (pragas e doenças) têm nos últimos anos debilitado a condição sanitária das sebes de buxos em muitos dos jardins portugueses.
Pragas do buxo
Psila do buxo
A Psylla buxi é um inseto que provoca deformações nas folhas e nos rebentos apicais e axilares das plantas. Os adultos esverdeados emergem no final da primavera e as fêmeas colocam os ovos nos rebentos. Hibernam sobre a forma de ovo ou ainda de ninfa recém-eclodida.
As ninfas eclodem na primavera seguinte e alimentam-se das folhas, provocando seu enrolamento. Ocorre apenas uma geração por ano. O controlo das ninfas pode ser efetuado com recurso a pulverizações à base de óleo de verão ou à base de sabão. Os imagos controlam-se com inseticidas homologados após a sua emergência.
Lagarta-mineira das folhas do buxo
A espécie Monarthropalpus buxi é atualmente das que mais danos provocam nas plantas de buxo. Os insetos emergem na primavera, e, depois da cópula, cada fêmea coloca cerca de 30 ovos nas folhas novas. As larvas, quando eclodem, escavam galerias no interior das folhas, alimentando-se da seiva.
As larvas são cor de laranja e medem cerca de 3 mm de comprimento e hibernam nas folhas. O período de pupação ocorre no início da primavera. Ocorre apenas uma geração anual, mas, sendo o buxo uma planta de folha persistente, os danos podem estar patentes durante vários anos.
No final da primavera e início do verão, surgem pústulas nas folhas atacadas, as quais se tornam amarelas-acastanhadas e um ataque intenso pode causar uma queda prematura das folhas, podendo mesmo ocorrer a morte do buxo em plantas mais debilitadas.
O controlo deste inseto, não é simples, devendo-se rever as adubações ricas em azoto. Os imagos e as larvas poderão ser controlados com recurso a inseticidas sistémicos por pulverização, seja quando emergem e antes de efetuarem as posturas ou quando estão presentes nas minas respetivamente. Em Portugal, não existem inseticidas homologados para o controlo desta praga.
Ácaro do buxo
A espécie Eurytetranychus buxi é o aracnídeo mais comum encontrado no buxo. Os adultos minúsculos são amarelos-esverdeados ou avermelhados e dos seus ovos, de tonalidade amarelada, eclodem as larvas na primavera, após a hibernação, sob a forma de ovo nas folhas. No seu desenvolvimento, alimentam-se do limbo das folhas novas, sugando a seiva e injetando uma secreção tóxica, originando manchas amarelas na superfície das folhas, as quais ficam com um tom acinzentado. A espécie apresenta uma geração anual.
Para promover o controlo desta praga, deve-se moderar as fertilizações azotadas. O controlo da praga, do ponto de vista biológico ocorre através da predação por parte de joaninhas. Do ponto de vista químico, a aplicação de uma calda à base de acaricidas homologados permite o controlo das populações no verão.
Doenças do buxo
Míldio do buxo
A espécie Cylindrocladium buxicola, recentemente identificada em Portugal, é atualmente uma das principais doenças do buxo.
A doença poderá passar inicialmente despercebida, sendo apenas reconhecida aquando de uma desfoliação intensa. As folhas apresentam manchas acastanhadas marginadas em tom mais escuro. Na página inferior das folhas e com humidade elevada, poderão observar-se massas de esporos esbranquiçados. Nos lançamentos recentes, podem surgir listas negras e fendilhamento da casca. As plantas, sobretudo as mais jovens em virtude da desfoliação intensa, poderão morrer.
Este fungo não infeta as raízes. Para o controlo deste fungo, é importante controlar a humidade elevada, o ensombramento e a má circulação de ar, pois são condições favoráveis ao desenvolvimento do fungo. Adicionalmente, deve-se arrancar e queimar as plantas mortas; podar os ramos doentes; remover as folhas caídas e a parte superficial do solo na proximidade de plantas doentes e desinfetar os instrumentos utilizados na poda (utilizar lixívia).
É importante não confundir a sintomatologia associada a C. buxicola com os sintomas causados pela infeção de Volutella buxi.
Cancro do buxo
O fungo Volutella buxi pode afetar todas as espécies de buxo, mas ataca sobretudo Buxus sempervirens cv. ‘suffruticosa’.
O quadro sintomatológico é vasto. Apresenta frutificações rosadas nas folhas e nos ramos, sendo que, antes de surgirem os desenvolvimentos primaveris, as folhas dos ápices dos ramos infetados mudam de verde-escuro para cor de bronze e finalmente para amarelo-palha. Com o avanço da doença, as folhas verticalizam e tornam-se adjacentes aos raminhos. De entre a sintomatologia mais evidente, destaca-se o facto de alguns ramos inibirem os novos lançamentos primaveris e não apresentarem o vigor característico da espécie. Para evitar e controlar esta doença, deve-se, através da poda, promover a circulação do ar e a penetração da luz. Na presença dos primeiros sintomas, deve-se remover os ramos infetados, que deverão ser cortados cerca de 10 cm abaixo dos tecidos doentes. É igualmente importante a remoção de todas as folhas e resíduos que se tenham acumulado dentro da sebe.
Podridão das raízes
A doença em causa é atribuída aos fungos do género Phytophthora sp. que atacam sobretudo Buxus sempervirens cv. ‘suffruticosa’, mas já registada em Buxus microphylla.
A doença geralmente inicia-se num ramo ou numa parte da planta e gradualmente vai-se manifestando noutros ramos, até atingir toda a planta. A sintomatologia das plantas atacadas caracteriza-se pela presença de folhas onduladas com as margens enroladas para dentro e mudando de verde-escuro para uma tonalidade palha. Não se verifica a desfolha.
As raízes ficam diminuídas das suas capacidades e com tonalidade escura. Os caules adquirem tom escuro, a casca apodrece e tem tendência a soltar-se, sendo que, a casca do caule principal pode desprender-se abaixo do solo e expor os tecidos descolorados.
Para o controlo da doença, é crucial garantir a boa drenagem dos solos para que a zona do raizame não fique exposta ao excesso de humidade. Após o início da infeção, a aplicação de caldas fúngicas à base de fosetil de alumínio poderá ser uma solução, ainda que com resultados pouco promissores.
Ferrugem das folhas do buxo
A doença causada pelo fungo Puccinia buxi é uma das doenças mais características do Buxus sempervirens. Numa fase inicial, sobre as folhas, formam-se pequenas pontuações alaranjadas de contorno irregular e na sequência do desenvolvimento originam pústulas castanhas-escuras e purulentas na página inferior das mesmas folhas. Estes esporos hibernam e contaminam as folhas novas, as quais perdem a cor natural e as manchas adquirem tonalidade mais escura. Quando o ataque é muito agressivo, ocorre a queda prematura da folhagem.
O controlo químico pode ser feito através da aplicação de fungicidas, nomeadamente enxofre. A condição atual das sebes de buxo deve-se pois a um conjunto de fatores que podem conduzir a médio prazo ao declínio destes exemplares e que normalmente envolve a ação conjunta ou por vezes isolada de um vasto leque de pragas e/ou doenças que importa controlar em tempo útil.
Fotos: Rui Tujeira
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