Hotel Vinícola da Quinta do Vallado e Casa do Rio. Estes são dois sítios únicos a não perder quando se passeia pelo Douro.
Já conhecia os vinhos da Quinta do Vallado, justamente famosos pela sua excelência, mas nunca tinha visitado o Hotel Vinícola da Quinta, embora amigos vários já tivessem dele tecido rasgados elogios.
Num itinerário para mostrar o Porto e o Douro a amigos ingleses, resolvi aproveitar para conhecer não só o hotel, como os jardins e as hortas que o rodeiam.
O Hotel Vinícola
A Quinta do Vallado é uma bela história de família (no Norte e nos vinhos em particular, há outras). Tendo sido no século XIX propriedade de D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, mantém-se até hoje na posse dos seus descendentes.
Um daqueles raros casos portugueses em que o amor ao negócio de família se foi transmitindo de pais para filhos até aos dias de hoje. Os primos Francisco Ferreira e João Álvares Ribeiro são quem atualmente conduz – com êxito – os destinos da empresa.
O Vallado é também um caso de evolução e de modernização exemplares em que, sem estragar a atividade principal da empresa, a partir do ano 2003 se começou a capitalizar na consolidação no mercado da qualidade e imagem dos seus vinhos e a alargar o âmbito da atividade à área do enoturismo, aproveitando o balanço da recente classificação dada pela UNESCO ao Douro Vinhateiro como Património da Humanidade.
O primeiro passo foi fazer a recuperação da casa da quinta setecentista transformando-a num hotel com cinco quartos (projeto do Arq. Manuel Magalhães) virados para a paisagem do vale do Corgo.
NAS DUAS UNIDADES HOTELEIRAS, QUEM POR LÁ PASSA PODE APRECIAR o que o Douro tem de melhor: a paisagem, os vinhos e a gastronomia”.
A casa de traça tradicional, pintada a cor de ocre, assumiu um toque de modernidade com a varanda projetada por Souto Moura. O sucesso do pequeno hotel levou à decisão de, em 2008, construir a arrojada ‘’cave das barricas’’, agora transformada em garrafeira e sala de provas, cujo exterior é todo forrado de xisto e que nos parece estar suspensa sobre as vinhas, embora parte do seu interior esteja, na verdade, soterrado.
Quatro anos depois, o Arq. Francisco Vieira de Campos segue as linhas do edificado da ‘’casa das barricas’’ e projeta o novo edifício que vai aumentar a capacidade do hotel com oito quartos.
A utilização do xisto e do vidro dão um definitivo ar de contemporaneidade a todo o conjunto, que assume assim a fusão entre a tradição da casa antiga e a atualidade da ala nova.
Os jardins e a paisagem
Apesar de o hotel ser muito bonito, o que me encantou mais foi o seu perfeito enquadramento na paisagem e os espaços ajardinados que acomodam a zona da piscina, mas que também oferecem a quem por lá passa recantos de descanso, leitura ou conversa.
Vinhas, hortas e pomares completam o entorno do hotel e fornecem a cozinha do mesmo. Laranjeiras, ciprestes, pinheiros, jasmim e ervas aromáticas pontuam o relvado, num ambiente bem português.
Um belo canteiro de roseiras, todas catalogadas, foi plantado em tempos pelo pai do atual diretor-geral João Álvares Ribeiro, que, quando lhe perguntei quem tinha sido o autor do projeto das áreas envolventes do hotel, me respondeu modestamente que tinha sido ele próprio.
Justificou o facto dizendo que a área envolvente era tão grande que obteve preços incomportáveis para o orçamento disponível na altura quando consultou empresas de arranjo paisagístico.
Espantada com esta faceta de um gestor de sucesso, insisti em saber como explicava aquele gosto (e talento) para projetar um jardim. Retorquiu que o devia ao pai que tinha uma paixão por jardins e era um estudioso do tema.
A Casa do Rio
Tudo isto se passava no peso da Régua onde se situa Quinta do Vallado, mas o meu destino final desse dia era a Casa do Rio, no Douro Superior, em Vila Nova de Foz Côa, onde íamos pernoitar.
Para evitar as curvas das estradas e poder gozar tranquilamente a majestosa paisagem duriense, seguimos de comboio até ao Vesúvio e daí num barco da Quinta do Vallado para o resto do percurso.
A chegada ao hotel da Casa do Rio, o último projeto da Quinta do Vallado, deixou-me de boca aberta. Aproveitando a situação paradisíaca da Quinta do Orgal, adquirida em 2009, na área do Parque Arqueológico do Vale do Côa, continuou-se a aumentar o hotel do Vallado com mais seis quartos e duas suites.
O projeto, também da autoria de Francisco Vieira de Campos, terminado em 2015, é um case study de integração na paisagem.
O pequeno hotel parece suspenso entre duas vinhas, integralmente construído em madeira e assente em pilares num recôncavo da encosta, e funciona como uma varanda para o rio Douro.
Dos quartos, restaurante ou piscina, quem lá está nunca perde de vista o rio e as encostas vinhateiras, podendo assim usufruir em pleno do melhor que o Douro tem para dar: a paisagem, a gastronomia e os vinhos.
O entorno da casa, todo em declive, aproveita uns patamares para a instalação de uma horta – laranjeiras, oliveiras e vinhas fazem o resto da decoração sem destoar da pureza da paisagem.
Entre o conforto do Hotel Vinícola junto ao Peso da Régua e a imersão na profundeza duriense da Casa do Rio, a Quinta do Vallado conseguiu dois pontos de paragem paradisíacos para quem queira experimentar o Douro e o que ele tem para dar.
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