Jardins & Viagens

Expedição à Madeira

JARDIM BOTÂNICO DO FUNCHAL

 

Em setembro a viagem da revista Jardins foi à ilha da Madeira, onde fomos conhecer a costa Norte, as suas paisagens, jardins, quintas e também alguns dos jardins mais emblemáticos do Funchal.

 

Começámos esta viagem embeleza com uma visita guiada ao Jardim Botânico do Funchal. Leonardo, o nosso guia, era um profundo conhecedor da flora, da fauna autóctone e da história da Madeira, o que enriqueceu muito estes dias.

 

Jardim Botânico da Madeira

Em 1952, a quinta onde é o atual Jardim Botânico da Madeira foi adquirida para o mesmo ser ali instalado. Hoje em dia, observam-se aqui coleções de plantas, como as indígenas da Madeira, as suculentas, o arboreto, as agroindustriais, as aromáticas e medicinais, os jardins coreografados, a topiária, as palmeiras, as cicadales e as cultivadas em estufa.

 

Plantas indígenas da Madeira

Esta coleção divide-se em duas áreas distintas: uma na envolvente ao edifício principal; e outra, de maior dimensão, num patamar inferior, junto ao anfiteatro. Nesta última, as plantas estão organizadas segundo a tipologia vegetativa: vegetação do litoral, Laurissilva, vegetação de altitude, vegetação do Porto Santo, Desertas, e Selvagens; é uma coleção impressionante que compreende mais de 100 espécies.

 

Plantas suculentas

Encontram-se distribuídas por três patamares, a sul do edifício principal. Podem ser observadas diversas espécies das famílias aizoáceas, portulacáceas, asclepiadáceas e asteráceas, coleções de cactáceas, de euforbiáceas, várias suculentas arborescentes, do género Aloe e muitas crassuláceas.

 

 

Jardins coreografados

Num dos patamares superiores do jardim, podem ser apreciados, num primeiro plano, os jardins coreografados. Localizados na zona central do espaço, o material vegetal é organizado de modo a possibilitar a criação de padrões geométricos, contrastantes, alcançando desta forma um desenho único, com o verde e o encarnado a formar o padrão principal e uma manutenção semanal exemplar a que pudemos assistir. Desta plataforma temos como pano de fundo a cidade do Funchal e o Atlântico; uma paisagem arrebatadora que torna este jardim singular.

 

Plantas agroindustriais

Aqui podem observar-se espécies comestíveis e utilizadas na indústria em geral, caso, por exemplo, das alcachofras, dos espargos, do gengibre, do cardamomo e de árvores de fruto como o embondeiro, a macadâmia, a sapota e o tamarindo, e plantas aromáticas e medicinais como a hortelã, o rosmaninho, a alfazema, a arruda e alecrins, entre outras.

 

Museu de História Natural (MHN)

Podemos apreciar expostas vastas coleções de minerais e rochas do arquipélago da Madeira, fósseis das ilhas da Madeira e Porto Santo, corais e animais embalsamados da ilha da Madeira e ilhas Selvagens.

 

Porto Moniz

Para que pudéssemos usufruir em pleno da experiência de conhecer a costa Norte, rumámos a Porto Moniz, onde ficámos, durante três dias, em frente ao mar, no Hotel Natura Bay, com uma localização privilegiada. Foi possível mergulhar nas piscinas do cachalote mesmo em frente do hotel e na piscina no rooftop.

 

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Fajã das Achadas da Cruz

Este foi um dia especial. Guiados por Rui Nelson, alguém que conhece a costa Norte, Porto Moniz e aquelas paisagens como ninguém, começámos por visitar aquele que ficou a ser um dos meus locais favoritos não só na costa Norte mas na Madeira.

Descemos no teleférico das Achadas da Cruz até à fajã junto ao mar, sítio absolutamente único que neste momento só tem um único habitante. A paz, a paisagem, o que se respira neste sítio dificilmente se consegue transmitir por palavras.

Foi muito gratificante ter recebido alguns abraços e agradecimentos de pessoas que foram nesta viagem por terem ficado tão encantadas como eu por termos tido o privilégio de passar por aqui.

 

Fanal

Outro local mágico. Aqui o Rui Nelson mostrou-nos as grandes árvores, exemplares notáveis da Laurissilva, floresta nativa, que parecem trolls que a qualquer minuto vão desatar a correr. São verdadeiros monumentos vivos que, quanto a mim, não estão protegidos como deveriam, pois vi muitos turistas em cima dos mesmos (e dos seus líquenes a tirar fotografias como se estivessem na Disney) e assim infelizmente penso que talvez não vão durar muito.

Depois destes dois passeios únicos, seguimos ainda com o Rui Nelson para um almoço mítico no Clube Naval do Seixal, uma garoupa pescada à linha e assada no forno com batatas e salada que estava verdadeiramente deliciosa.

 

 

Quinta do Barbusano

Seguimos para uma quinta de produção de vinhos onde nos esperava uma visita guiada e uma prova de vinhos. É um sítio muito bonito com vinhas em socalcos onde se produzem vinhos com as castas Verdelho, Malvasia, Casca Vermelha, Tinta. Aqui as vinhas são protegidas dos ventos marítimos com os restos de podas das videiras. Têm vinhas noutros locais para produção dos seus vinhos, como Porto Santo, Porto Moniz e Ponta Delgada. A vinificação é feita numa adega cooperativa e sujeita a todos os controlos governamentais. Provámos vinhos brancos, tintos e rosés.

 

Parque das Queimadas

Fizemos uma caminhada através deste parque, que fica situado no concelho de Santana, na costa Norte da ilha da Madeira, e que é mais um local de excelência para a observação da riqueza da flora característica da floresta Laurissilva. Fomos sempre acompanhando uma levada.

Em termos de vegetação, podemos destacar, por exemplo, a presença de til (Ocotea foetens), urzes centenárias (Erica platycodon subsp. Maderincola), pau-branco (Picconia excelsa) ou uveira-da-serra (Vaccinium padifolium).

A paisagem do Parque Florestal das Queimadas é complementada pelas espécies de avifauna que por aqui podem ser frequentemente avistadas, animais como os endémicos bisbis (Regulus madeirensis) e o pombo-trocaz (Columba trocaz), mas também a manta (Buteoharteti), a lavandeira (Motacilla cinerea schmitzi) ou o tentilhão (Fringila coelebs madeirensis).

 

 

Quinta do Furão

A caminho deste hotel paramos em Santana para visitar as casas típicas da Madeira, que aqui ainda estão muito bem preservadas, algumas convertidas em lojas e outras ainda habitadas. Este é um hotel muito bonito que pertence ao mesmo grupo hoteleiro do hotel onde estávamos. Estivemos lá no almoço da festa das vindimas e a seguir fizemos uma visita guiada aos jardins e à vinha. Seguir-se-ia de um workshop do famoso pão de Santana, que é feito com batata-doce e é delicioso. Depois também aprendemos a fazer a tradicional poncha madeirense, com sumo de laranja e de limão e rum.

 

 

Ponta de São Lourenço

Para mim, um dos pontos altos desta viagem foi o passeio pedestre até à ponta de São Lourenço. Foi uma caminhada de quase três horas pela escarpa junto ao mar, com paisagens de cortar a respiração e observando a vegetação autóctone, composta maioritariamente por herbáceas anuais e perenes, alguns arbustos e árvores de pequeno porte. Também a fauna marítima é muito abundante e diversificada. Fomos a pé até ao cais do Sardinha, onde um barco nos foi buscar para nos levar de volta para o Machico, onde almoçámos antes de rumar ao Funchal.

 

PONTA DE SÃO LOURENÇO

 

Centro de Educação Ambiental do Senhor da Serra

Fomos visitar o Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra – Eva e Américo Durão, que se situa numa propriedade doada, em 2019, por Eva Durão à Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal com o objetivo de ser criada uma unidade de paisagem vocacionada para a conservação da Natureza e promoção de ações de Educação Ambiental. Deixou ainda um valor em dinheiro que permitiu fazer obras e melhoramentos e um valor anual que permite garantir uma manutenção mínima. Fomos recebidos pelo Professor Raimundo Quintal, que nos fez uma visita guiada.

 

Voluntariado e sustentabilidade

Explicou-nos que a maior parte do trabalho na conservação dos caminhos e eliminação e controlo das plantas invasoras é feito por voluntários, sendo um trabalho que consome muito tempo e energia, mas que é vital. O voluntariado estende-se ainda ao trabalho de plantação de espécies endémicas e nativas – neste momento já existem todas as espécies arbóreas da Laurissilva e também já há um grande número de arbustos e de herbáceas.

Aqui as árvores que são cortadas são utilizadas para delimitar os caminhos, fazer degraus, guardas ou pequenas barragens nas encostas para atenuar a força da água quando, nos dias de muita chuva, corre com muita força.

 

A diversidade botânica

Também aqui se pode ver uma coleção de camélias, de Proteáceas e de muitas outras plantas ornamentais em canteiros desenhados em volta de uma área de prado/ervado onde os visitantes podem admirar plantas dos quatro cantos do mundo. Aqui podemos ver plantas como o loureiro-da-madeira, o tangerão, o cedro-da-madeira, o gerânio-da-madeira, a roseira-brava, o sanguinho-da-madeira, o tangerão-bravo, a uveira-da-serra, os tis, os vinháticos, o sabugueiro e variados fetos, entre muitas outras plantas.

 

Jardim Monte Palace

Subimos até ao Jardim Monte Palace de teleférico, o que nos permitiu usufruir de uma excelente vista sobre a cidade do Funchal. Ocupa uma área de 70.000 m2 e alberga uma abundante coleção de plantas exóticas, provenientes dos vários continentes. Há várias coleções neste jardim. A exposição intitulada Paixão Africana mostra parte de uma coleção de escultura contemporânea do Zimbabué compreendida entre 1966 e 1969. Estão expostas mais de 1000 esculturas distribuídas em dois pisos do museu, sendo que a um corresponde uma apresentação individualizada dos artistas e a outro a recriação do ambiente em que estas peças foram criadas e expostas originariamente.

Segredos da Mãe Natureza apresenta parte de uma coleção de minerais provenientes na sua maioria do Brasil, Portugal, África do Sul, Zâmbia, Peru, Argentina e América do Norte. Nesta exposição, estão patentes cerca de 700 amostras dispostas em cavidades que tentam simular o ambiente de formação dos minerais nas profundezas do nosso planeta. Outras encontram-se “suspensas”, dando a sensação de um espaço planetário, onde massas rochosas gravitam livremente. Há ainda a salientar uma galeria com exposição de gemas, com um destaque especial para os diamantes. Terminámos esta visita a fazer a famosa descida nos cestos.

 

 

História da Quintado Palheiro Ferreiro

A Quinta do Palheiro Ferreiro é das quintas mais notáveis e mais visitadas da Madeira. Mantém a sua função residencial, mas está adaptada à hotelaria e ao turismo. A quinta deve ter nascido, por volta de 1804, pela mão do 1.º conde de Carvalhal. Em 1885, a quinta foi comprada por John Burden Blandy – com o seu falecimento em 1930, Graham herdou este património, casou-se com Mildred, nascida na África do Sul. A partir de então registou-se uma grande expansão dos jardins. Mildred Blandy – mãe de Adam Blandy, o atual proprietário e representante da 6.ª geração dos Blandy na Madeira – era uma grande apaixonada por horticultura e jardinagem, tendo, ao longo de mais de 50 anos, supervisionado e acarinhado os jardins, introduzindo-lhes muitas espécies novas.

 

Casa e main garden

Quando John Burden Blandy adquiriu a propriedade, mandou construir uma nova casa de inspiração vitoriana. Nasceu também nesta altura o chamado main garden, num nível inferior à casa. Um jardim geométrico, de formas regulares, orientado por um eixo central a partir do qual se desenvolve. O piso da alameda principal deste jardim, bem como dos caminhos transversais, é construído em calhaus rolados colocados a cutelo com grande mestria. Segundo Raimundo Quintal, o pavimento aparece sempre nos caminhos mais nobres das quintas e jardins das casas senhoriais da ilha Madeira, um toque característico e único destes jardins.

Os canteiros que compõem este jardim são diferentes. Alguns são relvados, com uma bordadura de pequenas árvores, arbustos e herbáceas. Noutros, aparecem também no relvado árvores notáveis de grande porte, como a canforeira, o cedro-do-atlas ou o tulipeiro. Um dos canteiros tem um desenho muito diferente e é conhecido por Sunken Garden e foi uma criação de Mildred Blandy na área onde anteriormente se localizava o campo de croquet. Este talhão tem uma sebe de buxo e no centro um pequeno lago pontilhado por alguns nenúfares.

 

 

O jardim da Senhora

Num local onde existia anteriormente um laranjal, desenvolve-se este jardim formal completamente diferente de tudo o resto onde aparece o buxo topiado em formas de animais.

 

Jardim de Proteáceas

Este jardim tem uma coleção notável de Proteáceas uma vez que Mildred era sul-africana e uma apaixonada por estas plantas originárias da sua terra natal. Elas adaptaram-se de uma forma extraordinária a este local e as suas florações conquistaram muitos fãs, fazendo neste momento parte de muitos jardins da Madeira. Aqui há uma série de próteas, Telopeas, Banksias, Leucospermum e Leucandendron, algumas com dimensões notáveis com uma Banksia gigante cujo tronco impressionante parece quase um animal pré-histórico.

 

Jardins Quinta do Lago

Este foi um dos jardins mais bonitos que tivemos ocasião de visitar. Com uma área de cerca de 2,5 hectares e mais de 500 espécies botânicas, tem uma coleção de árvores centenárias como o dragoeiro (Dracanea draco), a Syncarpia glomelifera, a Cinnamon campitora, etc. Neste jardim habita há algumas dezenas de anos uma tartaruga gigante que é a mascote do hotel e da casa Colombo. Dá as boas-vindas aos visitantes e deixa que lhe façam festas.

 

 

História

Esta propriedade foi estabelecida, no século XVIII, por uma família madeirense. Entre 1750 e 1770, pertenceu à empresa Lamar, Hill, Bisset & Co., que comercializava vinho da Madeira. O general Beresford, que comandou as tropas inglesas que ocuparam pela segunda vez a ilha da Madeira a 24 de dezembro de 1807, viveu nesta quinta até deixar a ilha, em 17 de agosto de 1808. A casa passou depois por várias gerações da família Lindon-Vinard, que havia comprado a propriedade em 1881. Desta família descendem também os atuais proprietários.

 

Hotel

A Quinta Jardins do Lago é hoje em dia um pequeno hotel de luxo com um jardim botânico maravilhoso, situado numa das colinas mais verdes que rodeiam a cidade do Funchal, muito perto do seu centro histórico e com uma magnífica vista sobre a cidade.

Hoje, a Quinta Jardins do Lago, com 31 quartos duplos, quatro suítes júnior e cinco suítes premier, todos virados a sul para os jardins luxuriantes e para o mar azul do Atlântico, é, sem dúvida alguma, um dos mais belos exemplares de interligação perfeita entre a riqueza histórica e patrimonial e as exigências de bem-estar e conforto de pessoas que procuram excelentes férias num ambiente genuíno das quintas da Madeira. Tem ainda um excelente restaurante onde tivemos oportunidade de almoçar com uma magnífica vista para o jardim.

 

Jardins

O grande objetivo nos Jardins do Lago, devido à altitude em se encontra, é ter um jardim com um carácter tropical. Estão sempre à procura de espécies novas raras que ainda não existam nos outros jardins madeirenses para que os visitantes possam sempre ver algo diferente. Pretendem ter florações abundantes em todas as estações do ano que possam ser apreciadas pelos hóspedes do hotel. Vários canteiros apresentam uma grande variedade de plantas endémicas e nativas da Madeira, assim como dos arquipélagos que rodeiam a Madeira, caso das Canárias, Açores e Cabo Verde. A maioria destas plantas, apesar do seu grande potencial ornamental, são pouco vistas nos jardins da Madeira. Ao plantarem espécies nativas, algumas delas raras ou até extremamente raras estão também a atrair uma série de polinizadores nativos, como é o caso de algumas abelhas.

Uma das razões apontadas pelos hóspedes que voltam a este hotel ano após ano é a beleza do seu jardim. As misturas de plantas usadas nas várias bordaduras conseguem efeitos sublimes e os contrastes que conseguem são magníficos.

 

Foi uma viagem que mostrou a muitas das pessoas que viajaram connosco uma nova faceta da Madeira que não conheciam e que ficaram com vontade de conhecer melhor, pois a costa Norte, onde passámos mais tempo, tem muito para descobrir.

 

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