Mitos e conselhos para quem quer começar a produzir alguns dos seus alimentos dedicando-lhes apenas 15 minutos por dia!
Porquê cultivar alguns alimentos?
São muitas as motivações. Comer mais saudável, aproximar-se mais da natureza e dos ciclos das plantas, diminuir o desperdício, comer mais fresco, livre de pesticidas, ter sempre os legumes à mão de semear, reduzir o tempo de conservação no frigorífico, etc.
ALGUNS MITOS QUE LEVAM MUITAS PESSOAS A DESISTIR:
Mito 1: É PRECISO MUITO ESPAÇO PARA CULTIVAR ALIMENTOS
Não é verdade; quando temos pouco espaço, somos mais imaginativos e conseguimos cultivar muito mais do que imaginaríamos.
Em espaços mais pequenos, podemos produzir pequenas quantidades e muita variedade, o que nos permite ter legumes, frutas, aromáticas sempre à mão — mesmo que não seja em quantidade, é sempre em qualidade.
Mito 2: AS HORTAS SÃO ESPAÇOS FEIOS E DEVEM ESTAR CONFINADOS A ZONAS ESCONDIDAS DO JARDIM
Se optar por fazer uma horta-jardim, onde mistura as hortícolas com as plantas aromáticas, algumas plantas ornamentais e pequenos frutos; como morangos, framboesas, quivis ou maracujás, ou mesmo árvores de fruto, como laranjeiras, limoeiros, romãzeiras, etc., vai conseguir ter um espaço com uma grande biodiversidade e uma grande beleza.
Mito 3: PARA PRODUZIR ALIMENTOS É PRECISO UMA ÁREA PLANA
E CHEIA DE SOL
Embora um terreno plano à partida possa parecer mais simples, o facto de existirem declives faz com que existam também diferentes habitats, zonas mais quentes e mais frias, mais húmidas e mais secas, o que vai permitir cultivar plantas com necessidades diferentes.
Pode sempre optar por fazer floreiras sobrelevadas que facilitam o trabalho de manutenção, permitindo que se trabalhe em pé com facilidade.
Enquanto plantas como o tomateiro, pimento, etc. necessitam de zonas de pleno sol, plantas como as couves, nabos, cenouras ou beterrabas preferem zonas de meia-sombra.
Mito 4: UMA HORTA/JARDIM É UM TRABALHO A TEMPO INTEIRO QUE VAI EXIGIR IMENSAS HORAS DE MANUTENÇÃO DIÁRIAS
É óbvio que quanto mais tempo dedicar à sua horta/jardim mais vai obter em troca (quanto mais se dá mais se recebe).
Mas com apenas 15 a 20 minutos por dia consegue fazer grande parte das tarefas e ter um espaço agradável e bem mantido (claro que estamos a falar de um pequeno jardim/horta urbano e não de jardins enormes).
Se está comprometido em cultivar alguns alimentos, jardinar tem de passar a fazer parte da sua rotina diária.
Assim tem o prazer de ver diariamente o desenvolvimento das suas plantas e estar atento ao surgimento de alterações que possam significar ataques de pragas ou doenças.
Muitos dos efeitos nefastos das pragas e doenças evitam-se com uma avaliação e combate precoce.
QUATRO CONSELHOS ESSENCIAIS:
1. GERIR EXPECTATIVAS
Deve sentar-se com papel e caneta à frente para fazer o planeamento da sua horta, mas quando estiver a fazê-lo, deve ser realista, pois, se no papel tudo parece simples e rápido, no terreno nem sempre é assim.
Faça um calendário mensal não muito ambicioso, onde coloca a data de sementeira e/ou plantação de todas as hortícolas, frutas e aromáticas que gostaria de ter, tenha em atenção o ciclo de cada uma destas culturas.
Mais vale começar com pouco e ir fazendo cada vez mais, do que começar com muita ambição e desistir ou ficar desmotivado e frustrado.
2. CULTIVAR O QUE GOSTA
Quando nos workshops ou no site me perguntam o que devem começar por cultivar, a minha resposta é sempre: devem começar por cultivar as hortícolas, frutas e aromáticas de que mais gostam e que mais usam (tendo sempre em atenção as condições de solo e de luz que têm disponíveis).
No ano seguinte ou na estação seguinte, terão oportunidade de corrigir as variedades e quantidades, pois é perfeitamente normal que tenham excesso de produção de algumas plantas e carência de outras.
3. PRIORIZE AS TAREFAS
Nunca deixe de colher o que está em condições de estar colhido porque tem sementeiras, plantações ou podas atrasadas!
Faça as suas colheitas a tempo, para evitar o desperdício, que é um dos grandes objetivos de produzir os seus alimentos.
4. SEMEIE OU PLANTE APENAS O QUE CONSEGUE MANTER
Não vale a pena ter uma horta ou jardim enorme se depois não tem tempo e vontade de os manter.
Isto só vai gerar frustração e desistência. Mais vale ter um pequeno canteiro com várias hortícolas, frutas, aromáticas e flores, bonito, bem organizado e que lhe exige poucos minutos por dia, do que ter uma horta enorme onde nunca consegue ver o fim ao trabalho nem os resultados que gostaria.
Menos é mesmo mais, em grande parte das coisas e aqui voltamos ao primeiro conselho: gerir expectativas.
Dedique à sua horta ou horta-jardim 15 minutos por dia
Esta é a melhor forma de controlar sem esforço o desenvolvimento das suas culturas, bem como perceber atempadamente se há algum ataque de pragas ou aparecimento de doenças.
Esta visita diária, mesmo que não tenha nada para fazer lá, permite que fique a conhecer bem o seu espaço, as suas plantas e a forma como se desenvolvem.
Pode dividir estes 15 minutos em dois tempos por exemplo, oito de manhã e sete ao final do dia — são momentos de paragem que vão fazer parte da sua rotina diária.
A este tempo diário tem de acrescentar nas épocas de mais trabalho na horta algumas horas extras no fim de semana, dependendo do tamanho do seu espaço.
SEGUNDO A FAO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO), um metro quadrado de uma horta urbana pode produzir até 30 kg de alimentos por ano.
Dê sempre atenção:
1. À qualidade do substrato/solo
Este é um ponto fundamental, seja qual for o se tipo de horta, no terreno, em canteiros, em vasos ou em floreiras. Ter um solo ou substrato de qualidade é uma das premissas fundamentais para ter plantas saudáveis e produtivas.
Invista em bons substratos, se vai cultivar em floreira ou vaso (substratos biológicos, fertilizados e com boa estrutura).
Se vai cultivar no terreno, invista na fertilização do mesmo com recurso a composto, estrume, húmus, etc.
As cultura hortícolas esgotam bastante o solo, por isso tem de fertilizar todos os anos e em vaso tem de substituir parcial ou totalmente o substrato em cada época.
2. A escolha das plantas
Quando escolher as plantas para cultivar, tenha em atenção os seguintes pontos:
- Conheça o ciclo e vida das plantas, para saber qual o período ideal para semear e/ou plantar. Pode consultar mensalmente as tarefas do jardineiro da Jardins onde vem toda a informação sobre o que cultivar em cada época.
- Saiba quais as necessidades em luz e sol das plantas e localize-as nas zonas adequadas às suas necessidades.
- Saiba quais as necessidades de água de cada uma das plantas e regue-as consoante as suas necessidades.
- Quando se cultiva em pouco espaço, é-se muito mais eficiente, conseguem-se produzir mais plantas por metro quadrado. A proximidade de casa e da cozinha é sempre uma grande vantagem, pois vai permitir uma maior utilização de tudo o que se encontra “à mão de semear”.
- A utilização de plantas auxiliares e de companhia com flores que atraem os insetos bons e facilitam a polinização vai ajudar muito na manutenção da horta. Plantas como as calêndulas, borragem, cravos-túnicos, etc. são imprescindíveis.
- Plantas fáceis para quem está a começar: para zonas de sol pleno: pepinos, curgetes, pimento, tomate, Para zonas de sol e meia-sombra: alfaces, espinafres, nabos, beringela, feijões, ervilhas, ruibarbo, rabanetes, aipo, alho, morangos, etc.
- Cultive sempre plantas aromáticas — são imprescindíveis, quantas mais tiver, melhor: manjericão de todo o tipo, salsa, coentros, cebolinho, sálvia, alfazema, alecrim, tomilhos, manjerona, cidreira, lúcia-lima, etc.
Dicas úteis:
- Não semeie diretamente na horta, à exceção dos feijões, ervilhas, favas, leguminosas em geral e hortícolas como a cenoura, nabo, rabanete, batata, que devem ser semeados logo em local definitivo. Quando semear em tabuleiro, transplante para o local definitivo assim que as plântulas tenham quatro a cinco folhas definitivas e pelo menos 10 cm de altura.
- Compre pré-plântulas para poupar tempo e ter mais sucesso.
- Cultive plantas perenes para que uma parte do terreno esteja sempre plantada, pode escolher plantas como o ruibarbo, espargos, alfazemas, alecrim, tomilhos, sálvias, alcachofras, cidreira, lúcia-lima, morangos, mirtilos, framboesas, etc.
- Na horta, há trabalho todo o ano, mas há dois momentos muito importantes: no início do outono e no início da primavera, quando planeia a sua horta de outono-inverno e a de primavera-verão.
- Estude a orientação solar do seu espaço e percebe quais as zonas que têm mais e menos sol ao longo do dia e ao longo do ano.
- Sempre que estiver com vontade de desistir, pense nos benefícios de cultivar: comer mais saudável, aproximar-se da natureza, comer mais fresco, comer livre de pesticidas e herbicidas.
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