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Edição Especial “Novos Agricultores”: Rosa Moreira, a Cientista Agrícola

Vale a pena conhecer alguém que com a sua energia, conhecimento e paixão pela agricultura, conseguiu criar uma plataforma de referência para todos os que gostam de agricultura.

O seu blog, FB, YouTube e Instagram são seguidos por milhares de pessoas que querem aprofundar os seus conhecimentos nesta área fascinante.

Fale-nos um pouco de si e/ ou história de vida.

Chamo-me Rosa Moreira e sou a fundadora da plataforma digital A Cientista Agrícola. Com formação superior na área das Ciências Ambientais e, mais tarde, nas Ciências Agrárias, consolidei durante o meu percurso académico muito do que aprendi ao longo da minha vida com os meus pais, agricultores.

Em 2018, quando criei o meu projeto digital, olhei para o mesmo como um espaço onde tivesse a possibilidade de escrever sobre os temas agrícolas de que mais gosto, sempre com o principal objetivo de aproximar a população da agricultura e usando uma linguagem clara e objetiva. Residente e natural de Vila do Conde, é no meio rural que me sinto realmente feliz e realizada.

Esta sua paixão pela agricultura foi uma coisa natural? Tendo nascido numa família de agricultores, alguma vez teve dúvidas de que este seria o seu caminho?

Sempre fui uma apaixonada pelas ciências ambientais e agrárias, muito pelo facto de ter crescido no meio rural. Como é óbvio, o forte histórico agrícola que existe na minha família desde cedo me fez crer que poderia ser o caminho a seguir.

Felizmente, tive a oportunidade de aprofundar os conhecimentos mais práticos que me foram transmitidos, com a parte mais técnica e científica que mais tarde adquiri quando ingressei em Engenharia Agronómica.

Como surgiu esta ideia de criar um site/blogue de informação agrícola para todos?

Surgiu numa fase da minha vida em que estava insatisfeita com a atividade profissional que exercia, e comecei a idealizar como poderia mudar esse aspeto.

Foi nesse sentido que surgiu o projeto digital A Cientista Agrícola, inicialmente com o objetivo de mostrar as minhas competências e paixão pela área em que me formei. E, ao mesmo tempo, ajudar a divulgar o que melhor se fazia e faz no sector agrícola, aproximando os portugueses do mundo rural.

Depois de dois anos de blogue, quem são os seus leitores? Agricultores profissionais, agricultores amadores, curiosos, agricultores urbanos?

É curioso que o público d’A Cientista Agrícola tem-se tornado cada vez mais diverso ao longo do tempo.

Se, no início do projeto, eram maioritariamente empresários agrícolas e agricultores profissionais, com o passar do tempo, os leitores do blogue começaram a ser cada vez mais diversificados.

Atualmente, A Cientista Agrícola reúne agricultores profissionais, agricultores amadores, agricultores urbanos e até interessados em iniciar a sua atividade no sector agrícola.

Sente que há muita gente a virar-se para a agricultura e a voltar a cultivar?

Sim, sem dúvida. Há cada vez mais pessoas interessadas em ter um projeto agrícola ou em regressar às suas “raízes” mais rurais.

Acho mesmo que, com o desenvolvimento desta pandemia, as pessoas começaram a entender a “riqueza” que é ter a possibilidade de produzir os seus próprios alimentos e até mesmo de desfrutar da tranquilidade da vida do campo.

Quais são os temas que suscitam maior interesse nos seus leitores?

O tema das pragas e doenças de uma dada cultura é uma temática com muita procura.

Recebo muitas fotografias de plantas e/ou culturas que apresentam algum problema fitossanitário por email ou através das redes sociais. Como é óbvio, torna-se difícil fazer um diagnóstico através destes meios, mas é sempre possível dar algumas dicas.

Temáticas como a nutrição das plantas e do solo, o que semear e plantar mês a mês e dicas caseiras para a horta também têm muita procura.

As dúvidas de como cultivar e cuidar das plantas são sempre muitas, consegue enumerar algumas que sejam recorrentes e às quais tenha de dar resposta quase diariamente?

Sim, até porque são maioritariamente quase sempre as mesmas. As pessoas gostam muito de saber quais são os cultivos da época, se está na altura de semear ou plantar determinada cultura.

A pensar nessa procura, criei uma rúbrica mensal chamada “Calendário Agrícola” no meu canal de YouTube, onde abordo quais são as principais tarefas do mês.

Sente que falar de agricultura é uma missão?

Cada vez mais. Comunicar agricultura é sobretudo uma missão quando se visitam escolas e nos deparamos com grande parte das crianças sem saberem como são produzidos os alimentos que consomem e que encaram com completa estranheza todos os ensinamentos que lhes transmitem.

Já falei com crianças mais citadinas que achavam que eram as vacas castanhas as responsáveis pelo leite com chocolate, o que, apesar de ter uma certa piada, não deixa de ser preocupante.

Que futuro sonha para a agricultura em Portugal?

Adoraria dizer que sonho com um futuro risonho, mas estaria a mentir. Numa altura em que encontramos tantos obstáculos, é importante sermos realistas.

Sinto que ainda há muito a melhorar neste sector que é crucial para todos. A comunicação agrícola nos meios digitais pode ser uma boa ajuda para desmistificar alguns mitos, mas não fará por si só a diferença.

É importante também apostar na formação e na constante inovação tecnológica do sector, pois só assim a agricultura se tornará competitiva e evoluirá. Adorava que existisse uma disciplina no plano curricular das escolas sobre produção agrícola.

Na minha opinião, faria toda a diferença na valorização do sector, além de que se tornariam adultos mais conscienciosos sobre a importância da agricultura e a origem dos alimentos.

Nestes tempos de mudança quer deixar alguma mensagem ou desafio aos leitores da Jardins?

Quero desafiar os leitores da Jardins a aproveitarem este período de mudança, caso ainda não o tenham feito, para iniciarem a criação da vossa horta e/ou jardim.

Hoje em dia, ter apenas um terraço ou varanda não é impedimento de nada e pode ser ainda um desafio mais estimulante. Além do mais, mexer na terra pode ser uma atividade bastante terapêutica. Bons cultivos!

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