Plantas

Podas de inverno: tudo o que deve saber

É comum assumir-se que as plantas precisam de ser podadas para se desenvolverem bem, mas esta afirmação carece de fundamento.

As plantas surgiram na Natureza muito antes do ser humano, e, como tal, sem que fossem podadas. Apesar disso, sobreviveram e evoluíram assim, sós, durante muitíssimos milénios.

Porque se podam as plantas?

As razões para podar uma planta podem ser variadas, mas estão todas mais relacionadas com a necessidade que temos de condicionar o desenvolvimento destas, do que com necessidades da própria planta, que pode perfeitamente sobreviver, crescer e reproduzir-se sem intervenção humana.

O presente artigo, pela diversidade de situações que a temática apresenta será dividido em duas edições dedicando-se a presente edição aos diversos tipos de poda e execução de cortes.

Atarraque em ramos jovens

Tipos de poda

A denominação dos diversos tipos de poda varia bastante de acordo com diversos fatores. Um critério de designação poderá ser de acordo com os diversos objetivos a que o exercício de podar se propõe. Assim temos:

Poda de formação (aplicadas a árvores jovens):

  • Elevação da copa – promove a estruturação do tronco e simultaneamente da base da copa à altura pretendida. Trata-se de uma ação a desenvolver repetidamente ao longo do crescimento da planta, não devendo ser demasiado intensa, mas visando a longo prazo a harmonia entre a copa e a utilização do espaço sob a mesma. Incidirá sobre os ramos mais baixos do fuste, sobre os ramos em excesso ou ainda sobre os que sejam indesejáveis.
  • Formação do tronco – respeita à necessidade que ocorre aquando do desenvolvimento inadequado de um tronco ou até de múltiplos troncos. Para prevenir complicações futuras, é importante estruturar o quanto antes num tronco bem conformado e que ofereça estabilidade. Incidirá sobre os ramos/caules mal conformados e/ou indesejados. A técnica de corte mais indicada deverá ser ponderada de acordo com a situação presenciada.
  • Formas artificiais – tem por objetivo dotar a árvore da forma pretendida, geralmente por motivos estéticos. As técnicas a empregar assim como as técnicas de corte mais indicadas deverão ser ponderadas de acordo com a situação presenciada.
Atarraque em ramos desenvolvidos

Poda de manutenção (aplicada a árvores maduras):

  • Formas naturais – promove tanto o arejamento e iluminação do interior da copa, permitindo o desenvolvimento de ramos novos, como a eliminação de ramos com risco potencial de queda. A poda em questão deve preservar o perfil inicial da árvore, aumentando o seu grau de transparência, não removendo mais de 20 por cento do volume inicial da copa. Do ponto de vista sanitário, incidirá sobre os ramos mortos ou atacados e relativamente à limpeza sobre os ramos em excesso ou ainda sobre os que sejam indesejáveis.
  • Formas artificiais – muitas árvores a intervencionar foram, no passado, alvo de intervenções que as privaram das suas configurações naturais. Esta tipologia de intervenção promove quer o desenvolvimento e controlo de raminhos novos melhor posicionados, quer a eliminação de raminhos novos mal posicionados e com futuro potencial risco de queda. A poda em questão deve preservar uma copa futura com dimensões relativamente reduzidas, para ser compatível com a estrutura biomecânica que a suporta.

Poda de reestruturação (aplicadas a situações especiais):

  • Equilíbrio biomecânico – resulta da necessidade de adequar, em termos de distribuição de carga, a estrutura da copa face a diversos aspetos, nomeadamente uma silhueta assimétrica, uma bifurcação fragilizada, entre outros, que tornam o exemplar, ou parte deste, potencialmente perigoso. Dever-se-á efetuar uma avaliação prévia bastante cuidada da árvore para identificar os locais de fragilidade e avaliar em que ramos a intervir e com que intensidade. A técnica de corte de ramos a empregar deverá ser a adequada a cada situação presenciada de modo a equilibrar as cargas e a respeitar a fisiologia da árvore.
  • Equilíbrio fisiológico – resulta da necessidade de adequar a estrutura da copa relativamente ao sistema radicular para que o último consiga suprir as necessidades do primeiro. Assim dever-se-á incidir sobre os ramos e raminhos terminais, reduzindo o diâmetro da copa consoante o grau de debilidade da árvore, o qual se determina após uma cuidadosa análise. Dever-se-á dar primazia à técnica de encurtamento de ramos através de atarraque por tira-seiva para corretamente diminuir o volume da copa e respeitar a fisiologia da árvore.
  • Coabitação – resulta da necessidade de adequar a estrutura da copa relativamente ao espaço físico e respetivas edificações nele presentes. Atendendo ao conflito entre a copa e as referidas edificações, a intervenção deverá incidir sobre os ramos e raminhos terminais, reduzindo o diâmetro da copa para permitir a coabitação do exemplar e da edificação. Dever-se-á dar primazia à técnica de encurtamento de ramos através de atarraque por tira-seiva para corretamente diminuir o volume da copa e respeitar a fisiologia da árvore.

Poda de correção (aplicada a situações especiais):

  • Reformação do tronco – técnica destinada a restabelecer o tronco de uma árvore.
  • Reformação da flecha – técnica destinada a redefinir a flecha de uma árvore.
Corte de ramos de grandes dimensões através da técnica de três cortes

Técnicas de corte

Sob o ponto de vista de recuperação das feridas provocadas pela poda, ou seja, de recobrimento da ferida com novas camadas de madeira acrescentadas anualmente, a técnica de execução dos cortes assume especial relevância de modo a minimizar o tempo de exposição da ferida aos agentes externos que poderão ser nocivos para a planta.

Os ramos, na quase totalidade das situações, surgem do interior do tronco através de gomos vegetativos desenvolvidos em anos anteriores.

Assim, nos anos posteriores ao abrolhamento destes gomos vegetativos, o câmbio das plantas vai produzindo anualmente camadas de madeira que vai cobrindo os ramos que derivaram do desenvolvimento dos referidos gomos.

Neste sentido na zona de interceção do ramo com o tronco, existem tecidos que pertencem ao tronco e outros que já pertencem ao ramo, sendo estes últimos os que apenas interessam eliminar, não ferindo o tronco para não comprometer o recobrimento da ferida.

Estes tecidos, que são desenvolvimentos do tronco sobre os ramos, designam-se por ruga da casca e são os tecidos enrugados na parte superior do ramo, sendo que no sentido oposto, na base, existe normalmente uma protuberância designada por colo do ramo.

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