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Edição Especial “Novos Agricultores”: Jaime Ferreira da Agrobio

Saiba como foi criada Associação Portuguesa de Agricultura Biológica e o papel que tem na promoção da agricultura biológica em Portugal.

Conversámos com o presidente da Agrobio, Jaime Ferreira, licenciado em Engenharia Florestal, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e com uma pós-graduação em Produção Agrícola Tropical, no Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa (UTL).

Há quantos anos existe a Agrobio e como surgiu?

A Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (www. agrobio.pt) foi criada, há 35 anos, por agricultores e consumidores (60 fundadores) que já na época sabiam da insustentabilidade do modelo vigente de produção agrícola, que tinha conduzido a resíduos perigosos nos alimentos, como é exemplo o DDT e a poluição grave de aquíferos, solos e ar.

Assim, com o aparecimento desta organização, pretenderam promover uma nova forma de produzir alimentos com a experiência de outros países, como a França e a Inglaterra (www.ifoam.bio).

Hoje, a Agrobio é uma associação de agricultores, consumidores, ONG de Ambiente, Organização de Cooperação para o Desenvolvimento e reconhecida como Instituição de Utilidade Pública. Criou recentemente a FPBIO – Federação Portuguesa de Agricultura Biológica.

Quais as principais linhas de ação da Agrobio?

A missão é promover e divulgar a agricultura biológica em Portugal.

Como ações principais tem a educação para a alimentação saudável e sustentável; capacitar os agricultores biológicos e candidatos a agricultores bio (assistência técnica; formação e apoio ao desenvolvimento de projetos de investimento); organização da produção, planeamento (organizações de produtores); criação e manutenção de mercados (mercados Agrobio); sensibilização e divulgação; lobbying.

Existe muita procura por parte de particulares de formação na área da agricultura biológica? Se sim, em que temas?

Há procura, sobretudo de particulares, mas também de colaboradores de empresas.

Os temas mais procurados são horticultura biológica; apicultura biológica; fertilidade e fertilização em agricultura biológica; modo de produção bio (curso certificado).

Existe formação da Agrobio online ou presencial disponível em todo o País? Quais os principais temas das formações?

Sim, lançámos o primeiro curso (Introdução à Agricultura Biológica) em fevereiro, só para associados. Vamos agora na sexta edição e está aberto para todos.

Criámos ainda, o curso sobre Circuitos Curtos Agroalimentares (agora na 2.ª edição), que tem tido bastante sucesso. Brevemente, lançaremos um curso sobre Sementes e outras formas de propagação em agricultura biológica e outras áreas como a fertilidade de solos e apicultura.

Que tipo de apoio poderá a Agrobio dar a alguém que queira começar a fazer produção em agricultura biológica?

É um aconselhamento próximo que vai desde encontrar o melhor local para produzir, formação e projeto de investimento até à colocação do produto no mercado nacional ou internacional.

Quais as vantagens de ser associado da Agrobio, sendo produtor ou sendo apenas consumidor?

Como produtor, pode desfrutar de um conjunto de serviços alargados, dedicados e adaptáveis a cada situação específica, com benefícios/garantia do melhor aconselhamento técnico e de apoio à colocação dos produtos no mercado.

Como consumidor, de descontos no acesso a produtos biológicos nos mercados Agrobio, formação, loja online, etc. Por último, com o seu apoio, estará a promover um trabalho que tem em vista a criação de bens públicos como sejam os alimentos saudáveis produzidos de forma sustentável.

Quais as principais atividades dinamizadas pela Agrobio?

• Educação para a alimentação saudável e sustentável (alimentação escolar bio – projeto-piloto de refeições escolares bio nas escolas básicas dos Olivais – 1660 refeições/dia desde outubro de 2017);

• Formação para agricultores e consumidores;

• Aconselhamento, assistência técnica e apoio ao desenvolvimento de projeto de investimento e acessos aos mercados;

• Organização da produção e planeamento (organizações de produtores);

• Criação e manutenção de mercados (mercados Agrobio);

• Ações de sensibilização e divulgação;

• Lobbying.

A Agrobio organiza uma série de mercados em todo o país, sentem uma procura crescente de consumidores?

Atualmente, a Agrobio gere 11 mercados (mercados Agrobio) e ainda em cogestão o Mercado do Lumiar+BIO.

Existe uma procura crescente por consumir bio, próximo e local, onde os mercados locais, sendo os mercados Agrobio uma ótima resposta a este interesse.

Como são selecionados os produtores que estão a vender nos mercados Agrobio?

Os produtores bio selecionados para os mercados Agrobio têm de ser associados, têm de estar certificados, a sua produção deve ser próxima (preferencialmente até 50 km do mercado) e cumprir um regulamento específico criado para o mercado.

Acredita que o futuro está na agricultura biológica? Quais considera serem as maiores vantagens deste tipo de produção para o ambiente?

Sim, acreditamos que é fundamental uma mudança nos sistemas de produção alimentar. O sistema vigente e dominante – agricultura convencional – não tem cumprido o que se propôs, resolver a fome no mundo.

A fome continua e os recursos necessários são cada vez mais escassos (exemplo: água, solo), estão poluídos e os alimentos contaminados, com graves implicações na saúde do planeta e humana.

É urgente a mudança. Assim, a proposta da promoção de uma agricultura com princípios e duradora, que cumpra os objetivos como alimentar a população humana e em simultâneo respeitar o planeta Terra, para que as gerações vindouras possam habitar e viver com saúde, é essencial.

A garantia no nosso entender é que a agricultura biológica deve ser o novo normal. A agricultura biológica assenta na biodiversidade e no equilíbrio dos ecossistemas.

Não há recurso a pesticidas e a adubos químicos de síntese, preservando-se a qualidade do solo e da água. A energia e os recursos naturais são usados de forma integrada e autossustentável.

As culturas biológicas respeitam a sazonalidade dos alimentos e as condições naturais de produção (solo e clima). A proximidade entre produção e consumo diminui a pegada ecológica associada ao transporte.

Que cuidados devem os consumidores ter quando compram produtos biológicos? Como podem saber se são mesmo biológicos?

A produção biológica é certificada de acordo com legislação europeia específica. O cumprimento da legislação é periodicamente controlado por entidades competentes.

As entidades envolvidas no controlo são: IPAC, DGADR, Certificadoras (11) e ASAE. Os produtos certificados são reconhecidos pelo logótipo europeu de agricultura biológica, cujo fundo pode ser verde, branco ou preto:

O rótulo indica a origem do produto e o código da entidade certificadora.

Os produtos a granel possuem um certificado específico, que deve estar na posse do vendedor e que pode e deve ser consultado pelo consumidor.

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