Jardins & Viagens

Aves insectívoras: como atraí-las para o seu jardim

Se perguntarmos a alguém o que imagina quando pensa na palavra jardim, é provável que nos diga flores, árvores, borboletas e… passarinhos!

Na verdade, se pensarmos bem nisso, um jardim sem aves (e, principalmente, os sons das mesmas) pode tornar-se um espaço desolado. Um jardim pode perfeitamente ser equilibrado entre aquilo que consideramos ser esteticamente agradável e os serviços que pode prestar ao ambiente que o rodeia.

No caso desta edição, estes serviços são aqueles que favorecem a vida selvagem que visita o jardim e, em particular, as aves.

Existem vantagens em ter vida selvagem no jardim. As aves são muitas vezes apreciadas pelo seu canto ou pelas suas cores vistosas. Algumas espalham sementes de árvores e outras mais modestas comem insetos. Muitos insetos.

Este discreto, mas importantíssimo papel, resulta no controlo de muitos insetos potencialmente perigosos para as plantas no jardim, que normalmente designamos por pragas.

O chapim

O chapim-real (Parus major) e o chapim-azul (Cyanistes caeruleus) são duas espécies de aves insectívoras que frequentemente visitam os nossos jardins. Foi já amplamente comprovada a importância destas aves no controlo de lagartas em pomares de macieiras e outras fruteiras.

No nosso País, estas aves são também muito importantes no combate à lagarta-do-pinheiro ou processionária, dado que conseguem remover os pelos urticantes das lagartas.

Um casal de chapins pode fazer até duas posturas por ano, e habitualmente põem muitos ovos, chegando a haver casais que criam mais de dez filhotes por postura.

Cada cria de chapim pode comer 100 lagartas por dia e demora 20 dias para sair do ninho. Isto significa que um ninho com dez crias consome 20.000 lagartas. São muitas lagartas.

O exemplo dos chapins é conhecido porque são aves relativamente abundantes e fáceis de observar em ambientes alterados como são os pomares e os jardins.

No entanto, existem muitas espécies de aves insectívoras pequenas que também visitam frequentemente os jardins e que também comem muitos insetos, como a carriça, a trepadeira, o pisco, o rabirruivo, a toutinegra, etc.

Para garantir que estas aves visitam o nosso jardim e se tornam residentes, é necessário considerar alguns requisitos de forma a oferecer um habitat adequado e apelativo.

A importância da água nos jardins

Em primeiro lugar, é necessário que o jardim tenha uma fonte de água. As aves precisam de água para beber e para tomar banho de forma a manter as penas em boas condições.

No clima português, a falta de água pode ser um fator limitante porque as aves podem ter dificuldade em encontrar pontos de água com qualidade no seu habitat natural. A maioria dos jardins pode facilmente incorporar algum elemento decorativo como fontes, taças ou lagos, que as aves facilmente aprendem a usar.

É importante que os pontos de água tenham uma zona rasa em que aves possam tomar banho sem se afogarem.

Outro elemento importante é refúgio. A maioria das aves insectívoras são pequenas e preferem ambientes com sebes e outras plantas arbustivas onde se possam refugiar em situações de perigo.

As aves são mais ousadas e fáceis de observar em jardins com muitos locais de refúgio. E algumas, como os melros, gostam de fazer ninhos em arbustos ou árvores baixas. As plantas arbustivas são também um bom terreno para a caça de insetos em segurança.

Na seleção de plantas a introduzir no jardim podem selecionar-se espécies que fornecem alimento alternativo às aves. Normalmente pequenos frutos ou bagas são também apreciados pelas aves dado que durante o outono e inverno os insetos são um recurso escasso.

Arbustos como o medronheiro, o folhado, a murta, o sabugueiro ou o pilriteiro são muito apreciados pelos pequenos frutos que produzem.

Ninhos artificiais

A colocação de ninhos artificiais é fundamental para permitir que algumas aves se reproduzam no nosso jardim. No entanto, é importante saber a que espécies nos queremos dirigir.

Sem isto, acabamos por fornecer excelentes apartamentos aos pardais e outras aves que não são muito úteis ao jardim, mas que são extremamente abundantes.

As caixas-ninho podem ser compradas ou feitas por nós. É importante pesquisar sobre as preferências de cada espécie. Os chapins, por exemplo, preferem caixas-ninho com entrada em buraco.

Outras espécies preferem entradas amplas. A dimensão da abertura também é importante dado que condiciona qual a espécie que consegue entrar. Existem vários guias disponíveis na Internet para ajudar a selecionar o tipo de caixa-ninho.

Os predadores

Um dos fatores mais importantes para a atração de aves para o jardim é a ausência de predadores. Na Natureza, existem muitos predadores, como doninhas, fuinhas, cobras, esquilos, aves de rapina, etc.

Algumas destes predadores também visitam jardins e quanto a estes não podemos fazer muito, são parte do sistema em que o nosso jardim se insere.

O problema são os predadores que vivem connosco e que podemos controlar, particularmente os gatos. A maioria dos donos de gatos não vê o seu animal de estimação como um temível predador de aves selvagens.

E, contrariamente ao que se pensa, mesmo quando estão bem alimentados, os gatos também caçam muitas aves. Num jardim bem plantado, com fontes de água e alimento, as aves sentir-se-ão bem, mas um gato terá um excelente território de caça nesse mesmo espaço.

Para que se tenha um jardim com vida selvagem, o acesso dos gatos ao jardim deverá, no mínimo, ser feito sob a atenção do dono.

As aves são o melhor avaliador possível da qualidade do nosso jardim, elas e os insetos são a nossa forma de medir quão integrado o nosso jardim está no ecossistema que o rodeia.

Permitir que a vida selvagem viva com e no nosso jardim é atribuir-lhe uma dimensão muito maior do que a estética que idealizámos. Com cores, sons e movimentos novos, inesperados e espontâneos.

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