As sebes vivas são conjuntos de árvores e arbustos de várias espécies, espontâneas ou plantadas deliberadamente, que podem desempenhar uma função quer de compartimentação, ao materializar os limites das propriedades agrícolas, bordejar alguns elementos da paisagem rural como as linhas de água e caminhos, quer de elemento estruturante e ornamental em jardins e parques, e constituem sistemas de uma enorme riqueza do ponto de vista ecológico, funcional e estético.
Podem caracterizar-se em quatro tipos:
- Cortinas de abrigo, quando a sebe comporta espécies arbóreas capazes de atingir alturas próximas ou superiores aos oito a nove metros, preferencialmente consociadas com um estrato arbustivo;
- Pequenos quebra-ventos, em que as sebes talhadas ou livres se podem constituir em pequenos quebra-ventos, se o seu crescimento vertical atingir entre os dois e os seis metros de altura;
- Sebes livres, constituídas principalmente por arbustos e árvores de pequeno a médio porte, plantados a distâncias suficientes para que possam crescer livremente, mas formando uma massa compacta;
- Sebes talhadas ou podadas, compostas unicamente por arbustos de folha caduca e/ou persistente e por algumas herbáceas, sendo podadas regularmente nas suas três faces.
As plantas de consistência lenhosa ocupam a parte central da sebe e constituem um fator limitativo à passagem da luz.
As espécies herbáceas e os pequenos arbustos localizam-se em maior quantidade nas bordaduras da sebe.
Funções
Constituindo elementos estruturantes da paisagem e dos jardins, são inúmeras as funções que as sebes desempenham.
Entre outras, salientamos que as sebes:
- Constituem um quebra-vento, podendo reduzir em 30 a 50% a velocidade do vento. Se possuírem uma estrutura semi-permeável aquela redução pode produzir efeitos até 15 a 20 vezes a altura da sebe. Se for uma sebe compacta, pode produzir uma turbulência na parte de trás, reforçando os efeitos negativos. Protege as plantas, o solo e a água;
- Melhoram as condições microclimáticas, como consequência do efeito de quebra-vento, pela redução da evapotranspiração e pelo aumento de até 1 a 3º C na temperatura;
- Minimizam a erosão dos solos, ao promover a infiltração da água das chuvas;
- Promovem a diversidade biológica, contribuindo para uma maior diversidade florística e faunística em termos de local de alimentação, reprodução e abrigo;
- Produzem madeira e lenha;
- Apresentam valor estético;
- Acrescentam valor económico em termos turísticos pela beleza que conferem;
- Constituem limite das zonas de recreio, fixam poeiras;
- Possibilitam ocultação de vistas, dão enquadramento visual e permitem a diminuição do ruído (nomeadamente nos parques e jardins).
No caso das sebes de compartimentação, de acordo com o livro “A Árvore”, encontramos na paisagem rural portuguesa as seguintes:
- Sebes de montanha. Caraterizam-se por: grande transparência, indispensável para garantir a drenagem atmosférica, permitindo o bom escoamento do ar (geada branca); irregularidade da crista da sebe, que aumenta extraordinariamente a rugosidade e, portanto, a eficácia da proteção do vento; serem constituídas por espécies da orla da mata.
- Sebes de oliveiras (Olea europaea var. europaea): trata-se de uma sebe com uma fiada simples ou dupla, situada nos extremos de propriedades ou a ladear caminhos.
- Sebes de loureiros (Laurus nobilis): trata-se de sebes plantadas sobre os socalcos a delimitar campos, mais ou menos talhadas e constituídas apenas por loureiros. Encontram-se em Sintra (azóia) e na região de Pombal.
- Sebes de cana (Arundo donax): estas sebes são constituídas por Arundo donax em três tipos. A sebe larga (+5m) as canas são cortadas todos os anos em janeiro-fevereiro, ficando a terra desprotegida durante um ou dois meses, numa altura do ano em que há, com frequência, excesso de água e em que se pretende um aquecimento rápido do solo (fevereiro – março), sendo de desejar esse efeito. A sebe estreita (1m) – onde nunca se faz o corte total – e onde as canas são apertadas a meio com canas atravessadas e atadas com arame (do tipo dos fardos de palha). São sebes permanentes, bastante permeáveis e razoavelmente elásticas. Muito usadas nas hortas da região saloia; A sebe morta, usada como sebe de proteção do solo, mas trabalhosa, e em que a sua concorrência nutritiva é nula. São sobretudo usadas na proteção da vinha de Colares.
- Sebes de uveiras: os campos são orlados de árvores (cerejeiras, carvalhos, choupos) em que as videiras trepam por elas. Concretiza-se, assim, a máxima utilidade/abrigo, com produção de vinho e transpiração intensa no verão. Muito comuns na região de Braga.
- Sebes de várzea: na Lezíria do Tejo ladeiam valas e são constituídas por salgueiros, freixos, choupos e vegetação marginal. Protegem a lezíria dos ventos e criam uma boa defesa do campo contra o prejuízo das cheias. Na zona do Mondego, além da compartimentação principal, aparece uma outra, constituída por vimeiros (Salix viminalis), de grande eficácia protetora no verão, ocupando pouco espaço e fornecendo um produto valioso, os vimes.
Composição e estrutura das sebes
A composição está diretamente relacionada com a espécie vegetal que constitui a cortina de abrigo.
Esta é definida pelo porte (arbóreo ou arbustivo), tipo de ramificação e forma da copa e folhagem (persistente ou caduca, abundante ou rala).
A estrutura, para uma mesma composição, pode variar com a posição das plantas, a disposição e o compasso de plantação.
A escolha da espécie botânica, a distância ou compasso de plantação utilizado, são determinantes para o sucesso de uma sebe.
Há que ter presente o tamanho que a planta vai atingir, e se será uma sebe podada ou não, pois este fator irá ser determinante para a decisão da distância de plantação.
Nas sebes ornamentais as distâncias de plantação dependem da espécie. Nunca deverão ser menores que 40-50cm, sendo o mais vulgar 60-80cm e, no caso de plantas grandes, 100-120cm.
Para se “fechar uma sebe“ deve-se promover o corte regular dos ramos novos, estimulando a produção de rebentos. Desta forma consegue-se criar uma sebe compacta.
Se houver espaço e quisermos uma sebe compacta, pode-se optar por plantar uma fila dupla desencontrada (em pé de galinha), o que dará origem a uma sebe mais larga e com uma presença marcante.
Podemos optar por sebes floridas (e.g. Escalonia sp , Hibiscus rosasinensis ); de folha com tons avermelhados (e.g. Berberis thumbergii var. atropurpurea ou tons acinzentados (e.g. Teucrium fruticans); de folha caduca (e.g. Punica granatum, Spiraea cantoniensis, Berberis thumbergii var. atropurpurea ); de folha persistente (e.g. Buxus sempervirens, Ligustrum japonicum, Myrtus communis, Rhamnus alaternus, Phyllirea latifolia).
Fotos: Ana Luísa Soares e Nuno Lecoq
Com Nuno Lecoq
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